A 19° edição do tradicional Fórum das Letras, promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto, ocorrerá de 29 de novembro, sexta-feira, a 3 de dezembro, terça-feira, homenageando o mineiro Affonso Ávila, um dos mais importantes poetas do Brasil.
Com uma programação centrada em cinema e poesia, com debates, filmes, sarau, concertos de música e performances poéticas, o Fórum das Letras continua sua tradição como um dos mais importantes eventos literários do Brasil, voltado para a valorização das literaturas de língua portuguesa, mas sempre com muito destaque aos autores nacionais. Confira a programação completa no perfil do evento do Instagram.
A professora Guiomar de Grammont, da UFOP, também coordenadora e idealizadora do Fórum das Letras, lembra que “a história da literatura costuma dar pouco destaque às produções textuais que se situam na fronteira entre as artes e as letras. No entanto, desde fins do século XIX, a concretude das palavras foi posta em relevo por Mallarmé e, posteriormente, por poetas de vanguarda como Apollinaire e Marinetti. A ênfase no aspecto visual do texto foi recuperada, no Brasil, pela poesia concreta”.
Homenagem
Essa poética da invenção antecipou potencialidades intermidiáticas utilizadas por diversos poetas da atualidade, dentre eles, Affonso Ávila, homenageado nesta edição. “Ávila foi um exímio pesquisador do barroco mineiro: fundou em 1969 a revista ‘Barroco’, e foi um dos responsáveis pela criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais”, destaca Guiomar, também poeta e pesquisadora do Barroco Mineiro, autora da obra ‘Aleijadinho e o Aeroplano: paraíso barroco e a construção do herói colonial’, que tem um capítulo dedicado aos ensaios de Affonso Ávila. O poeta leu o livro e mantinha uma interlocução sobre a obra com Guiomar de Grammont.
A professora Mônica Gama, também curadora e coordenadora do Fórum das Letras, menciona que, “Affonso Ávila nos deixou uma poesia construtivista, experimental, crítica e singular.”
Cinema e a Poesia
As relações entre o Cinema e a Poesia serão abordadas no Fórum das Letras com a exibição gratuita de filmes importantes como “Arábia”, dirigido porAffonso Uchôa e João Dumans, consagrado como o Melhor Filme no Festival de Brasília 2017 e Melhor Filme Lançado em 2018, segundo a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), a APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), o jornal Folha de São Paulo e o Festival Sesc, Melhores Filmes.
Será exibido também o curta “Guilherme Mansur – Obra em desdobra”, retrato-homenagem do poeta, editor e tipógrafo ouro-pretano Guilherme Mansur, falecido em setembro de 2023, com direção de João Dumans e produção de Laura Godoy.
João Dumans, Laura Godoy e seus pais, Dimas Guedes e Victor Godoy participarão de um debate após o filme, mediado por Guiomar de Grammont, que foi uma das amigas mais próximas do poeta Guilherme Mansur.
Lançamentos
No dia 29 de novembro à tarde, também no Anexo do Museu da Inconfidência, acontecerá também a exibição do documentário Nada será como antes, dirigido por Ana Rieper, sobre o Clube da Esquina, movimento musical que começou nos anos 60, em Belo Horizonte e se expandiu para o mundo.
No documentário aparecem Milton Nascimento, Lô Borges – então com 16 anos – e músicos do porte de Nivaldo Ornelas, Toninho Horta, Beto Guedes, Robertinho Silva e Wagner Tiso, que criaram uma sonoridade única e revolucionária. O documentário “Nada Será como Antes” mergulha na musicalidade deste time de músicos excepcionais para entender como referências musicais diversas, influências de paisagens, história e poesia refletiram em cada um deles e na música atemporal que criaram.
Logo após a exibição, teremos o lançamento do livro, com o título “Histórias de outras esquinas”, de Duca Leal, em uma conversa entre a autora e Dinelson Pires Junior.
O livro narra as histórias de Duca Leal, uma das musas do Clube da Esquina, que conviveu com Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges e seus irmãos, Fernando Brant, Flávio Venturini, Toninho Horta (que assina o prefácio) e muitos outros. Foi para ela que o letrista Márcio Borges escreveu duas das várias pérolas do grupo: Um Girassol da Cor de Seu Cabelo e Vento de Maio. Ambos foram casados e tiveram dois filhos.
A jornalista, gestora, produtora e ex-secretária de Cultura de Minas Gerais, Eleonora Santa Rosa, levará para o Fórum das Letras de Ouro Preto seu primeiro documentário que celebra um dos poetas e ensaístas mais brilhantes da segunda metade do século XX do Brasil, o mineiro Affonso Ávila. “Cristina 1300 – Affonso Ávila – Homem ao termo” será exibido nos dias 29 de novembro (sexta-feira), no anexo do Museu da Inconfidência e no dia 30, às 19 horas, na Igreja São Francisco de Assis. O filme traz preciosas imagens na casa de Affonso Ávila, na rua Cristina, 1.300, bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte, entre 2010 e 2012, e em Ouro Preto, cidade que imortalizou em seus poemas.
Após a primeira exibição, haverá um bate-papo com a diretora Eleonora Santa Rosa e o artista plástico Carlos Bracher, com a mediação da coordenadora do Fórum das Letras de Ouro Preto, a professora Guiomar de Grammont. Na oportunidade, Santa Rosa, Bracher e Grammont também vão comentar a relação afetuosa do poeta com a cidade de Ouro Preto e sua dedicação à preservação do patrimônio cultural de Minas Gerais. Uma surpresa especial programada para Ouro Preto acontecerá no sábado, dia 30, na Igreja de São Francisco de Assis, onde o filme será exibido.
A produção do documentário, que conta com a codireção de Marcelo Braga de Freitas, tem o patrocínio da Cemig (Lei Federal de Incentivo à Cultura e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais) e da Liasa (Lei Federal de Incentivo à Cultura). A distribuição em cinemas tem apoio financeiro do Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, através da Lei Paulo Gustavo direcionada pelo Ministério da Cultura – Governo Federal.
No dia 30 de novembro pela manhã, o Fórum será tomado por saraus de poesia, com poetas ouro-pretanos, inclusive Guiomar de Grammont, que estará lançando pela primeira vez na cidade onde nasceu e mora até hoje, na Livraria Outras Palavras, de Ouro Preto, a partir das 10h30, seu mais recente livro “Mais pesado que o ar”, sobre migrações, deslocamentos, geografias interiores, com poemas sobre cidades que marcaram sua vida, inclusive, Ouro Preto. O espaço também vai receber o lançamento do livro “Arábia: caminhos da escrita de um filme”, de Affonso Uchôa e João Dumans, com uma conversa com os autores, mediada pelo crítico e professor Emílio Maciel.
Debate
Vera Casa Nova e Anelito de Oliveira conduzirão um debate, mediado por Mônica Gama e sarau de apresentação da Coleção Infame Ruído, um mapeamento extraordinário da produção poética contemporânea no país. O sarau terá participação de autores que participam da Coleção: Carlos Barroso, Rogério Salgado, Mario Alex, Brenda Marques, Alicia Maria João, Welber Super8.
São 18 títulos apresentando autoras e autores que se destacam por particularidades estéticas e também éticas em suas respectivas zonas de atuação. A Coleção é parte integrante do projeto Terceira Feira: encontro de literaturas das margens do mundo, cuja primeira edição aconteceu de 11 a 15 de setembro de 2024 em Diamantina, iniciativa do Instituto Daghobé. Destina-se prioritariamente à formação de leitores em escolas públicas nas cidades com menor IDH em MG.
As atividades do dia 30 de novembro na Livraria Outras Palavras serão encerradas com o Pocket Show Oscar Neves Cantautor, às 17 horas, mas o evento continuará com a exibição do filme de Eleonora Santa Rosa na Igreja São Francisco de Assis, às 19 horas.
Ciclo de Jornalismo e Literatura
O Ciclo de Jornalismo e Literatura, um dos espaços mais significativos do Fórum das Letras, acontecerá nos dias 2 e 3 de dezembro, no Anexo do Museu da Inconfidência, com o Colóquio: Compilações Contemporâneas, organizado pelos professoresFrederico Tavares, Paulo Bernardo, Evandro Medeiros, da UFOP, discutindo os seguintes temas: “O que significa pensar os gestos produzidos e as materialidades convocadas nos atos de compilar? Como lidar com a invenção, a falta, a imaginação, a releitura? O que implica pensar e agir em relação a arquivos, registros, coleções e acervos? Que aproximações e passagens podem ser pensadas no cruzamento entre a materialidade dos arquivos, as formas da escrita da história, as reflexões no universo da comunicação, as políticas de organização de acervos?”. O Colóquio contará com a participação de Jacyntho Lins Brandão, presidente da Academia Mineira de Letras entre outros professores da UFMG e da UFOP.
Segundo Guiomar, “continuam vivos os objetivos do Fórum das Letras, de fomentar o debate sobre a formação do hábito de leitura literária em crianças e jovens e lutar pela democratização do livro e da leitura literária dentro e fora da escola, considerando os atravessamentos de toda ordem que interferem nos processos de produção, circulação e recepção dos livros”.
Muita história, 19 anos de Fórum das Letras
Desde sua estreia, em 2005, o Fórum das Letras tem festejado o livro e suas mais diversas faces, promovendo debates sobre literatura, edição, tradução, crítica, leitura e toda a cadeia produtiva e de circulação do livro. Momentos históricos, como o maior crime ambiental de todos os tempos, ocorrido em Mariana, em 2015, e o impeachment da presidenta Dilma Roussef, em 2016, foram debatidos nos palcos do Fórum das Letras.
Em todos esses anos, grandes nomes do cenário cultural brasileiro desfilaram pelas ladeiras e salas de Ouro Preto, em programações sempre críticas sobre a realidade do Brasil e do mundo. O Fórum recebeu nomes como Conceição Evaristo, Adélia Prado, Nélida Piñon, Ferreira Gullar, Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Ana, Marina Colasanti, Marcio Souza, João Ubaldo Ribeiro, Milton Hatoum, Emicida, Férrez, MV Bill, Adriana Calcanhoto, Leonardo Sakamoto, Paulo Lins, Mário Magalhães, Paulo Markun, José Miguel Wisnik, Arnaldo Antunes, Tony Belloto, Elisa Lucinda e tantos outros.
Participaram também grandes autores internacionais, como Jean-Paul Delfino, Roger Chartier, Asne Seierstadt e portugueses e africanos de língua portuguesa, como Pepetela, José Luiz Peixoto, Valter Hugo Mãe, Isabel Lucas, o moçambicano Mia Couto e o angolano Luandino Vieira, entre tantos outros. Passaram pelo Ciclo de Jornalismo nomes como João Moreira Sales, Lira Neto, Eliane Brum, Humberto Werneck, Mário Magalhães, Daniela Arbex, Audálio Dantas, entre outros grandes nomes do jornalismo brasileiro.
O Fórum das Letras de Ouro Preto tem coordenação da escritora e professora Guiomar de Grammont, idealizadora do evento, e da professora Mônica Gama e é promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A programação do Fórum é inteiramente gratuita e já está divulgada no link
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