A moda brasileira ganha novos moldes quando nasce da periferia. É com essa proposta que o Desfile da Coleção Favela será realizado em duas datas e locais estratégicos, 23 de maio, no Espaço Cultural da Escola de Design, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), e 24 de maio, no Centro Cultural Vila Marçola, no coração do Aglomerado da Serra. O evento é uma iniciativa do designer de moda e idealizador do projeto EMBR- É Moda Brasil, Marcel Warley, morador da própria comunidade.
O desfile marca uma virada no modo como se produz e se consome moda no Brasil, e se contrapõe ao modelo dominante do fast fashion. Inspirado por vivências e histórias locais, o EMBR propõe uma ruptura com os padrões eurocêntricos do mercado e coloca no centro da passarela pessoas pretas, periféricas, pessoas com deficiência e outros corpos historicamente excluídos da indústria da moda. “O desfile vem de uma necessidade de representatividade. Eu observei durante a minha formação que ela fica muito no papel, sobretudo na moda. Então, um dos principais objetivos é colocar a pessoa preta como protagonista, que não trabalhe apenas no backstage”, explica o designer, idealizador e coordenador do projeto, Marcel Warley.
O desfile como ato político e cultural
Com trilha sonora inspirada em ritmos afro-brasileiros e de funk MTG, figurinos criados a partir de técnicas de upcycling e re-design, a proposta busca novas formas de vestir e de existir no mundo. Os tecidos utilizados foram cuidadosamente selecionados e dividem-se em dois grupos: uma parte foi adquirida em saldões, e outra é composta por tecidos africanos, como o tradicional Ankara, importado da Nigéria. Ao ocupar a Vila Marçola com arte e moda, o projeto também desafia a lógica de eventos dentro da Contorno como único espaço legítimo de produção cultural.
A escolha do Aglomerado da Serra como território criativo não é casual, com mais de 50 mil habitantes, é um dos maiores complexos de favelas do Brasil e palco de intensa produção cultural e resistência cotidiana. Ao realizar o desfile ali, Marcel reforça o compromisso com uma moda que nasce do chão da comunidade, e que propõe um futuro mais justo, diverso e comprometido com as realidades brasileiras.
Raízes comunitárias
A proposta faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso de Marcel, intitulado “Moda, Sustentabilidade e Território – Aglomerado da Serra: a produção de um desfile de moda com povos minoritários”, e reflete sua atuação como artista, educador e agente cultural do território. Para ele, é essencial que a moda brasileira ultrapasse os limites da indústria tradicional e reconheça as estéticas e saberes que emergem das margens.
“Não estamos falando apenas de pessoas pretas. Estamos falando de várias minorias étnicas e outras minorias também, como pessoas da periferia. A ideia é que as pessoas se sintam abraçadas e que isso sirva de inspiração para futuros designers que façam alguma coisa focada na identidade e na ancestralidade”, completa Marcel.
Vogue Itália
Hoje, o É MODA BRASIL também é reconhecido pelas fotografias de estilo Street Wear Fashion, que capturam as vivências das periferias mineiras, e as fotografias produzidas já tem projeção internacional. O portfólio do projeto reúne mais de 10 fotos publicadas no catálogo da Vogue Itália, em destaque para duas edições especiais do editorial Preto no Branco, que evidenciam a beleza, a identidade e a força dos corpos negros em contextos urbanos.
Como apoiar
Empresas, coletivos e pessoas interessadas em apoiar o projeto podem entrar em contato com Marcel Warley pelo e-mail emodabh@gmail.com ou pelo WhatsApp (31) 98714-2025. O desfile também oferece contrapartidas institucionais para marcas que desejarem se engajar ou patrocinar na iniciativa. Marcas como Xá de Cana, Twenty’s Drinks, Studio Rucagi e Rocambole Imperial se somaram ao evento.