
Faz tempo que eu fiquei super incomodada com à série Ruptura (Severance, Apple TV+). O enredo parece absurdo: funcionários passam por um procedimento que separa completamente suas memórias entre a vida pessoal e profissional. Dentro da empresa, não sabem quem são fora dela — e vice-versa.
Mas a crítica vai muito além da ficção científica.
A série escancara algo que muita gente vive sem perceber: a tentativa de usar o trabalho como anestesia. Quando a vida interior se torna confusa, dolorosa ou sem sentido, mergulhar no excesso de produtividade, em metas, em processos e reuniões pode parecer uma solução. O problema é que essa “fuga funcional” cobra um preço alto.
Em Ruptura, a empresa Lumon simboliza um sistema onde controle e rotina tentam abafar angústias. Só que os personagens não conseguem simplesmente deixar seus conflitos do lado de fora. Eles acabam lutando contra o próprio ambiente — numa tentativa de resolver questões que, na verdade, não são só profissionais, mas emocionais também.
A série não traz respostas, mas levanta questionamentos que valem a pena ser feitos — especialmente em tempos em que o trabalho ocupa grande parte da nossa vida.
A gente passa mais tempo no trabalho do que em casa — e o que vem desse ambiente também pode nos adoecer. Com certeza você conhece alguém que já passou por isso. Ou talvez esse alguém seja você.
Não é só a tentativa de fugir das nossas angústias ou o não enfrentamento das questões emocionais que causa sofrimento. Às vezes, até levantar essas reflexões pode ser desconfortável…
Mas também pode ser o primeiro passo para buscar ajuda. Já parou para pensar nisso?

Layla Ramos
Psicóloga Especialista em Escola e Educação
@laylac.ramos