
Após os nossos 50 anos, inevitavelmente fazemos alguns balanços. E para quem vive da palavra, da escuta e da notícia, essa conta vem em forma de manchetes que não conseguimos publicar, pautas que não saíram do caderno de ideias, grandes histórias que passaram por nós como vento e sumiram na pressa da rotina.
Sim, há muitas reportagens que eu gostaria de ter escrito. Queria ter contado, com tempo e profundidade, o falecimento da minha mãe que, aos 78 anos, se foi por intoxicação da fruta carambola. Sonhava em fazer uma série sobre a violência sofrida por muitos homens dentro de casa que passam por relacionamentos abusivos no convívio com seus companheiros e companheiras. Desejava seguir uma criança no semáforo e mostrar o que ela tem que enfrentar para vender suas balas, além da pressão dos pais e da sociedade.
Sonhei, por anos, em entrevistar pessoas em situação de rua e descobrir talentos que a grande mídia não mostra. Aquela coisa de devolver dignidade e autoestima. Também me encantava a ideia de investigar memórias apagadas, de pessoas que hoje só em o passado para se lembrarem devido ao Alzheimer, o mal que meu pai sofre hoje aos 89 anos.
Durante os anos em que trabalhei nos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia e na revista Veja, muitas dessas pautas não encontraram sequer um tijolinho. Às vezes faltava tempo. Às vezes, coragem. Às vezes, simplesmente, a redação pedia outro foco. E às vezes, isso não era o “meu” foco!
Hoje, na revista PQN, tento resgatar algumas dessas histórias. Dou voz a personagens que ficaram à margem. E, mais do que isso, dou voz aos próprios comunicadores, especialmente aos 50+ como eu, que carregam bagagens imensas, mas que muitas vezes são deixados de lado num mercado que insiste em olhar só para o novo e muitas vezes o fútil. É minha forma de retribuir o que recebi, de ampliar narrativas, de mostrar que experiência também merece manchete!
A vida também escreve suas próprias matérias. Me fez testemunha de despedidas e reencontros. Me deu manchetes que vieram em forma de abraços, de silêncios, de recomeços e de perdas dolorosas como a partida de minha mãe. Virei editor de mim mesmo, aprendendo, a cada erro e sofrimento, que o lead da vida é agora!
Talvez tenha me faltado tempo para escrever grandes reportagens. Mas nunca me faltou vontade de viver grandes histórias. E isso ainda faz toda a diferença. E me comprometo fazer estes resgates na PQN.
Se eu pudesse deixar uma mensagem aos colegas 50+, diria que ainda há páginas em branco. Ainda há histórias esperando a sua escuta. Ainda há tempo para contar ou recontar o mundo. E eu tenho este espaço para você!
Porque mesmo o que não deu pra fazer… virou história! E que bom poder dizer que contar histórias é com a gente mesmo!

Robhson Abreu
CEO Grupo PQN
Presidente da Associação dos Blocos de Rua de BH (ABRA BH)
Membro do Conselho Estadual de Turismo de Minas Gerais
Diretor Administrativo da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo Secção Minas Gerais (Abrajet-MG)