
Quando participei em 1995 do projeto “Novos Talentos”, da Universidade de Navarra, no jornal Estado de Minas, eu era um jovem de 23 anos com sede de mundo, de manchetes, de pauta quente, do furo de reportagem. Fui selecionado entre mais de 500 recém-formados para integrar uma redação real, com jornalistas experientes e admiráveis, em um dos jornais mais respeitados do país. Mas não demorou muito para perceber que, apesar da oportunidade e do pioneirismo da iniciativa, todos nós éramos vistos com desconfiança e ameaça. Havia um certo incômodo no ar, como se estivéssemos ali para “tomar o lugar” de quem já estava consolidado. E isso me marcou!
Décadas depois, agora como um comunicador 50+, olho para essa cena com outro olhar mais sereno, maduro, e, principalmente, mais generoso. Hoje, quando vejo um estagiário ou um recém-formado chegando à redação, ou a uma equipe de produção, sinto exatamente o contrário do que senti naquela época: sinto vontade de acolher, de trocar experiências, de aprender!
Oxigenar as relações profissionais é uma necessidade e os mais jovens têm muito a nos ensinar, tanto quanto têm a aprender. Eles chegam com repertórios atualizados, novas linguagens, referências contemporâneas, agilidade digital e uma vontade imensa de acertar. Cabe a nós, comunicadores 50+, oferecer o que temos de mais valioso: contexto, escuta, ética, memória do ofício e a sensibilidade de saber que há tempo para tudo, inclusive pra errar e tentar de novo. Sempre!
A relação entre os comunicadores 50+ e estagiários não deve ser de hierarquia, mas de uma responsabilidade compartilhada. Cada geração tem seu papel e nenhum deles pode anular o outro. A nossa presença é um pilar que sustenta, enquanto que a deles um vento que empurra para frente.
O que aprendo e já aprendi com os estagiários? Nuuuuu… muita coisa. Desde uma nova funcionalidade no Instagram até visões frescas sobre temas que eu achava já entender por completo. Eles me mostram que não dá pra parar no tempo e, assim percebo que posso ajudar a evitar atalhos que cobram caro lá na frente.
A verdade é que, quando há respeito mútuo, ninguém tira o lugar de ninguém. A gente ocupa espaços diferentes, mas complementares. Compartilhar o bastão não é abrir mão do protagonismo, e sim ampliar o alcance da corrida!
Se, lá atrás, os tais “novos talentos” eram vistos como ameaça, hoje prefiro enxergar como impulso. E sei que posso ser, para eles, não um obstáculo, mas uma ponte! Por que a Comunicação muda, mas o que não muda é o poder transformador da escuta entre gerações!

Robhson Abreu
CEO Grupo PQN
Presidente da Associação dos Blocos de Rua de BH (ABRA BH)
Membro do Conselho Estadual de Turismo de Minas Gerais
Diretor Administrativo da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo Secção Minas Gerais (Abrajet-MG)