
Causada por protozoários do gênero Leishmania e transmitida pela picada, de um flebótomo, popularmente chamado de mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis), a leishmaniose continua representando um grande desafio para a saúde pública e animal. Entre 2023 e 2025, foram notificados 407 casos humanos da doença em Minas Gerais, sendo 58 óbitos, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net). O registro evidencia a persistência da doença e reforça a urgência da mobilização dos municípios para intensificar as ações de controle e prevenção, principalmente porque a infecção pode ser fatal em até 90% dos diagnósticos quando não tratada.
Médica veterinária, com especialidade em Patologia animal, a professora do curso de Medicina Veterinária do UniBH, integrante do ecossistema Ânima, a Dra. Idelvania Nonato, explica que a transmissão da leishmaniose visceral nos animais acontece por meio de dois ciclos: um no mosquito e outro no cachorro.
“Quando a fêmea do mosquito-palha pica um vertebrado, humano ou animal, adquire uma forma de infecção conhecida como Amastigota, que, por sua vez, vai se replicar na região intestinal do inseto, se transformando na forma promastigota. Essa forma infectante vai entrar na pele do cão, ao ser picado, e dentro do animal é fagocitada pelas células de defesa, onde se transforma em amastigotas e se replica em órgãos importantes como o fígado, baço e medula”, fazendo com que o animal se mantenha como um reservatório desse protozoário.” Emagrecimento abrupto, alopecia ao redor do olho, conjuntivite e presença de feridas que não se cicatrizam são alguns dos sintomas suspeitos nos pets. Em humanos, os sinais de alerta incluem febre prolongada, fraqueza, perda de peso, anemia e aumento do abdômen.
Ainda segundo a especialista, apesar de rara nos felinos, casos da doença em gatos também são possíveis. A preocupação, no âmbito médico-veterinário, hoje, conforme aponta Nonato, é mapear o diagnóstico. Isso porque existem cães infectados assintomáticos. “A prefeitura de BH – cidade considerada uma região endêmica – conta com um programa no qual equipes de zoonose visitam cada uma das regionais fazendo um mapeamento dos animais nos bairros e identificando a doença, inclusive, em cães assintomáticos”.
Idelvânia conta que até meados de 2008, o tratamento em pets não era autorizado. Diante da confirmação de leishmaniose, o cachorro era eutanasiado. “Felizmente esse cenário mudou. Atualmente há três medicamentos que controlam a sintomatologia clínica e estabilizam a replicação da doença nos órgãos, a exemplo do antimoniato de meglumina, alopurinol, e ou marbofloxacina (Marbox-Leish®), claro levando em consideração a particularidade de cada animal”. Os fármacos, porém, ainda têm o preço bastante elevado e o tratamento não é disponível de forma gratuita.
Quanto à eutanásia, a professora do UniBH faz questão de enfatizar que a prática não deve – em hipótese alguma – ser recomendada pelos veterinários. “Nós acolhemos o tutor e ele é quem vai decidir pela eutanásia quando não há mais o que fazer, e o animal está extremamente debilitado e o tratamento já não surte mais efeitos”.
Sobre a cura da doença, a médica veterinária é cautelosa ao dizer que os cães não ficam totalmente livres da enfermidade, mas apenas conseguem controlá-la. “O animal que responde ao tratamento fica assintomático e para de ser um reservatório da forma infectante. Vale destacar que ele sempre vai precisar de exames para monitorar uma possível recidiva”.
Prevenção
Dra. Idelvânia Nonato explica que os esforços da prevenção à leishmaniose se concentram na tentativa de eliminar o vetor transmissor. Nesse sentido é importante manter quintais e lotes limpos – principalmente os lotes vagos, já que o Lutzomyia longipalpis, mosquito-palha, se replica em ambientes sujos, com muito lixo e matéria orgânica. “Para o cão é importante vacinação e vermifugação em dia, coleira repelente, além do uso de xampus ou produtos à base de citronela”.