
A agenda de sustentabilidade avança a passos largos sobre o comércio exterior brasileiro e, com a proximidade da COP30, marcada para novembro deste ano em Belém (PA), o tema ganha ainda mais protagonismo, reunindo líderes mundiais, cientistas, organizações e sociedade civil para discutir mudanças climáticas, redução de emissões e financiamento climático.
Mas, além dos debates internacionais e dos importantes desdobramentos do encontro, são as normas regulatórias já em vigor que estão acelerando a transformação do setor de comércio exterior. A pressão dos órgãos regulatórios por práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) já é uma realidade, devendo impactar diretamente exportadores de diferentes setores.
No Brasil, normas internacionais de relato financeiro, como as IFRS S1 e S2, exigidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), reforçam a transparência de informações de sustentabilidade para empresas listadas, tornando-se obrigatórias a partir de 2026. Enquanto no cenário global, regulamentos como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM, em inglês) e a Diretiva de Due Diligence em Sustentabilidade Corporativa (CS3D), ambas legislações da Comunidade Europeia (EU), estabelecem critérios mais rigorosos de descarbonização e transparência na cadeia produtiva.
Para Alexandre Pimenta, CEO da Asia Shipping, esse é um momento decisivo para o comércio exterior.
“O ESG deixou de ser diferencial para se tornar um fator de acesso a diferentes mercados. A adaptação às novas exigências pode representar não apenas a continuidade das exportações brasileiras, mas também a conquista de vantagens regulatórias e financeiras em escala global. Nesse sentido, o setor logístico desempenha um papel estratégico, pois viabiliza a rastreabilidade e a eficiência necessárias em toda a cadeia de suprimentos”, afirma.

O que ditam as novas regulamentações da União Europeia
Instrumento da UE para aplicar um preço ao carbono emitido na produção de bens importados pelo bloco, o CBAM entra em sua fase regular a partir de 2026, vindo de uma etapa de transição desde 2023. A partir do ano que vem, empresas europeias que importam de países fora da UE passarão a ter que adquirir certificados para cobrir as emissões incorporadas nas mercadorias estrangeiras. Isso afeta setores brasileiros que exportam para o bloco, especialmente aço, cimento, alumínio e fertilizantes que, para manter a competitividade, têm que comprovar a redução de emissões na produção.
Já a CS3D obriga empresas a monitorar toda a cadeia produtiva, identificando e prevenindo riscos socioambientais, desde direitos humanos até impactos ao meio ambiente. Em resumo, as medidas exigem mais responsabilidade ambiental e social de exportadores.
Cases de cadeias sustentáveis no Brasil
Setores brasileiros já mostram que sustentabilidade pode gerar ganhos reais. O café do Cerrado Mineiro, por exemplo, foi o primeiro do mundo a receber o selo Carbon on Track, comprovando a captura de carbono com técnicas agrícolas responsáveis. Já a indústria calçadista tornou-se referência, destacando-se com a certificação Origem Sustentável, única no mundo para o setor.
“O Brasil tem condições de protagonizar cadeias sustentáveis, como mostra o setor cafeeiro, calçadista e outros exemplos. O futuro do comércio exterior cada vez mais dependerá da capacidade das empresas de conciliar competitividade com responsabilidade socioambiental, investindo em compliance, rastreabilidade e transparência. Isso garante acesso a mercados, crédito e credibilidade”, completa o executivo.