Após turnê de dois meses pela Europa e apresentações em Brasília, Goiânia, São Paulo (25 e 26/9) e Ribeirão Preto (28/9), o Trio Baru chega a Belo Horizonte para um encontro simbólico com a história da música brasileira. O grupo celebra 20 anos de trajetória no dia 2 de outubro (quinta-feira), às 20h30, no Museu Clube da Esquina (Rua Paraisópolis, 738 – Santa Tereza, Belo Horizonte/MG), em única apresentação.
Fundado em 2005, o Trio Baru consolidou uma identidade marcada pelo diálogo entre o choro, o samba-jazz e a música instrumental brasileira contemporânea. Essa estética encontra ressonância no Clube da Esquina, movimento que nasceu em Belo Horizonte e se projetou mundialmente com nomes como Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta. Assim como o Clube, o Baru se caracteriza por uma sonoridade plural, fruto da fusão de linguagens, ritmos e influências que extrapolam fronteiras.
“Estar no Museu Clube da Esquina é mais do que um show – é um reencontro com parte da nossa própria formação musical”, reflete Nelson Latif, violonista e cavaquinista do grupo. “Os músicos do Clube mostraram ao mundo que a canção brasileira pode ser global sem deixar de ser nossa. Esse princípio tem inspirado a trajetória do Trio Baru desde o início.”
Repertório de clássicos e homenagens
Para esta celebração, os músicos Nelson Latif, João Bosco de Oliveira e Sandro Alves prepararam um setlist que atravessa gerações. No programa, obras como Ponteio (Edu Lobo), Pedacinhos do Céu (Waldir Azevedo), Santa Morena (Jacob do Bandolim) e Disparada (Geraldo Vandré), entre outras. Haverá também arranjos próprios e homenagens a compositores que dialogam diretamente com o espírito do Clube da Esquina, como Milton Nascimento (Fé Cega, Faca Amolada/Cruzada) e Baden Powell (Canto de Ossanha/Berimbau). “É um repertório que traduz bem nossa caminhada: reverência aos grandes mestres, diálogo com a tradição e abertura à experimentação”, destaca João Bosco de Oliveira.
Para este espetáculo, o Trio Baru convida o cantor e compositor Marcelo Godoy. Mineiro de Montes Claros e radicado em Roterdã desde 1993, Godoy integrou o grupo Banzé, referência no resgate das tradições populares, e gravou o disco Inspiral após passagem por Londres, quando se aproximou de músicos como Beto Lopes, Toninho Horta e Lô Borges. Criou projetos como a Casa Brasil Holanda e já se apresentou em palcos da Europa e África. Também atuou com Omara Portuondo e lançou o álbum Paralelo 16, marcado pelo diálogo entre dois continentes e que revela a maturidade de sua obra.
Trajetória e identidade
Reconhecido como um dos grupos instrumentais mais longevos e respeitados de Brasília, o Trio Baru construiu uma carreira com apresentações no Brasil e no exterior – Europa, África, Oriente Médio e Américas. O grupo nasceu em 2005, em uma viagem à Holanda, e desde então mantém sua base em Brasília, cidade que ajudou a moldar sua sonoridade.
Para o percussionista carioca Sandro Alves, que integra o grupo há uma década, a experiência é como uma roda que nunca para de girar. “A gente se reencontra sempre com energia renovada, mantendo a essência do início. Cada um trouxe seu tempero musical e essa mistura gerou um som único, que é a cara do trio.”
Já o violonista brasiliense João Bosco de Oliveira ressalta o simbolismo de se apresentar em Belo Horizonte: “É emocionante trazer nossa música para um espaço que guarda a memória de um movimento tão fundamental para a cultura brasileira. O Clube da Esquina mostrou que a música pode nascer enraizada na tradição e, ao mesmo tempo, ser universal. Esse é também o espírito do Baru: criar com liberdade, mas sempre em diálogo com nossas raízes.”
Nesse percurso, Nelson Latif reforça o sentido de resistência cultural que acompanha a história do grupo. “Manter um trio instrumental no Brasil por duas décadas é um desafio enorme. Só conseguimos porque existe entre nós amizade, respeito e a convicção de que a arte tem força para atravessar o tempo.”
Entre os marcos da carreira, Latif cita a estreia nos Estados Unidos, em 2009, no The America Society, em Nova York, e a passagem por Moçambique, experiência que o grupo descreve como profundamente transformadora.
Sobre os músicos
Nelson Latif
Com o cavaquinho e o violão acústico, Nelson Latif formou sua identidade musical na lendária cena jazzística de São Paulo dos anos 1980. Com raízes no Choro e no Jazz, Latif funde estilos brasileiros e uma técnica de violão clássico com diversas influências musicais. Em seu fraseado melódico, ouve-se bebop e síncopes brasileiras. Como promotor cultural, tem coordenado projetos educacionais para universidades e instituições culturais ao redor do mundo.
João Bosco de Oliveira
O músico nasceu em Brasília e iniciou seus estudos de violão aos oito anos. Estudou na Escola de Música de Brasília e na Universidade de Brasília – UNB, graduando-se em 1992. Bosco participou de diversos concursos internacionais de violão e venceu quatro deles. Já se apresentou em Brasília e em outras cidades brasileiras, e sempre recebe excelentes críticas na imprensa brasileira. Bosco Oliveira foi professor do Departamento de violão clássico da Escola de Música de Brasília.
Sandro Alves
Carioca, o percussionista Sandro Alves é conhecido por suas raízes no samba. É especialista em misturar os estilos tradicionais da música afro-brasileira com o jazz moderno. Além de tocar no Trio Baru, Alves também pode ser visto em todo o Brasil como sideman (músico de acompanhamento) de alguns dos principais cantores do país.