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Burnout coletivo desafia empresas e trabalhadores a ressignificarem o papel do trabalho

Tempo de leitura: 2 min

em 08/10/2025

Burnout coletivo desafia empresas e trabalhadores a ressignificarem o papel do trabalho

O Brasil ocupa hoje a segunda posição no ranking global de burnout, segundo estudo do McKinsey Health Institute, de 2023. Mais de 50% dos trabalhadores brasileiros relatam sintomas como exaustão emocional, despersonalização e perda de propósito no trabalho. Em meio a uma epidemia silenciosa que atravessa todos os setores da economia, cresce o apelo por uma revisão profunda da forma como se vive o trabalho no século XXI.

O fenômeno atinge especialmente profissionais das gerações mais jovens e de áreas que envolvem atendimento, performance e controle de metas. Mas a síndrome também avança entre lideranças, professores, equipes de saúde e cuidadores, públicos expostos à sobrecarga emocional contínua. O que antes era tratado como exceção passou a fazer parte da paisagem cotidiana: longas jornadas, urgência constante, instabilidade e ausência de vínculos afetivos nas relações de trabalho.

Para Fernando Alves, diretor executivo da Rede Cidadã e autor do livro O Valor da Vida no Trabalho, o problema não está apenas no volume de tarefas ou nas condições objetivas, mas também na maneira como o trabalho tem sido vivenciado subjetivamente. “Todos sofrem com o trabalho: os pobres porque ganham pouco, os ricos porque não têm tempo para viver, só para trabalhar. E, assim, o trabalho se apresenta de modo perverso, ruim para todo mundo”, afirma.

Ele propõe um deslocamento de perspectiva: mesmo em estruturas rígidas, é possível transformar a experiência do trabalho a partir da consciência. A ideia é resgatar o trabalho como espaço possível de construção de vínculos — consigo, com os outros e com algo que transcenda a utilidade imediata. Isso não significa ignorar a precarização, mas recusar o cinismo como resposta automática.

“Não estamos falando de romantizar relações de trabalho. Estamos falando de re-humanizar. A experiência de pertencimento e escuta pode acontecer mesmo em atividades operacionais, desde que haja reconhecimento, diálogo e espaço para afetos legítimos”, diz Alves.

A tese encontra respaldo em pesquisas recentes. Um levantamento do GPTW Brasil, de 2024, mostrou que 75% dos trabalhadores acreditam que o trabalho impacta diretamente sua saúde mental, e 68% gostariam que sua empresa criasse canais de escuta ativa. Em vez de mais benefícios pontuais, o que muitas pessoas buscam é uma relação mais significativa com aquilo que fazem.

Na prática, essa mudança passa por gestos simples: ambientes de confiança, lideranças que escutam, espaços seguros para falar de angústias e o reconhecimento de que nem todo problema se resolve com mais produtividade. “A consciência de si, dos outros e do coletivo é o que pode devolver dignidade ao cotidiano profissional”, completa o escritor.

Ao trazer o debate para o campo relacional e simbólico, Alves amplia o entendimento sobre saúde mental no trabalho. A estrutura precisa mudar, mas, enquanto isso não acontece, é possível encontrar caminhos de resistência subjetiva. A chave, segundo ele, está em deixar de ver o trabalho apenas como meio de sobrevivência e reencontrá-lo como espaço possível de sentido.

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