
A exposição Novas Naturezas, de Alexandre Brandão, já pode ser visitada no SESI Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte. Inaugurada no último dia 10 de outubro, a mostra ocupa as três salas temporárias e a torre do museu com esculturas, desenhos e instalações produzidos entre 2012 e 2025.
O conjunto reafirma o interesse do artista em embaralhar fronteiras entre natureza e cultura, criando um universo em que elementos minerais, vegetais e industriais se fundem em composições híbridas. Desenvolvido especialmente para o MAO, o projeto amplia a proposta enviada ao edital do SESI e apresenta uma ocupação de grande escala, que transforma o espaço expositivo em um campo sensorial.

A experiência da mostra
Na Sala 1, o público é recebido por um ambiente imersivo, onde o fio de papel torcido — material sustentável e versátil, usado tanto em práticas artesanais quanto na indústria — ganha novas dimensões. Moldado, torcido e costurado pelo artista, o material se converte em estruturas que mimetizam espécies vegetais.
As esculturas da série Diorama formam um conjunto de “capins” que se movem levemente conforme a circulação do público, enquanto Invasora se estende sobre o espaço suspensa por fios de aço, como uma trepadeira. Nas paredes, obras pendentes e a série Herbário criam composições que evocam estudos botânicos inventados. No centro, as folhas monumentais de Volantes descem do teto e se projetam pelo chão, alterando a escala do olhar e o modo de se deslocar na sala.
A Sala 2 apresenta um ambiente de penumbra, dedicado às obras de luz. Trabalhos como Contraluz — um eclipse artificial projetado na parede — e Áurea — instalação em que feixes luminosos atravessam um tecido suspenso e se desdobram em múltiplos círculos conforme a movimentação dos visitantes — criam uma experiência silenciosa e quase hipnótica.
Na Sala 3, obras produzidas entre 2018 e 2023 articulam matéria orgânica e industrial. A série Passante (2021) é feita com suco de limão impregnado em tecido de algodão cru, revelado pelo calor do ferro de passar, enquanto Rama (2024) traz tecidos recortados a partir de folhas de cauassú coletadas na Mata Atlântica. Nas esculturas Entrenós (2022), fragmentos de galhos são reordenados com parafusos em estruturas híbridas, e em Neolítica (2023), pedras naturais e blocos de pó de pedra cimentado se fundem em um mesmo corpo. Já Tectônica (2018) reproduz, em solo-cimento, a aparência do barro rachado dos leitos secos de rios, criando um falso relevo que simula paisagem.
Pesquisa e conceitos
A exposição propõe uma reflexão sobre os limites entre o natural e o fabricado, explorando processos de transformação, tempo e matéria. Ao reunir obras que transitam entre desenho, escultura e instalação, Alexandre Brandão convida o público a imaginar “novas naturezas” em que tudo é simultaneamente natural e cultural.
O título da mostra dialoga com o livro Outras Naturezas, Outras Culturas, do antropólogo Philippe Descola, e sugere uma reflexão sobre as relações entre o humano e o não humano em um momento em que a crise ambiental redefine nossa forma de habitar o planeta.
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