Minas Gerais chega à Semana Internacional do Café (SIC), que será realizada no Expominas, em Belo Horizonte, entre os dias 5 e 7 de novembro, não apenas como maior produtor do país, mas como vitrine da transição regenerativa na cafeicultura. Só nesta safra, o Estado deve colher 25,3 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E quando um player desse tamanho muda o manejo da terra, a régua do setor inteiro sobe.
O Brasil lidera o volume global de café com origem sustentável certificado pela Rainforest Alliance, uma das organizações de certificação de sustentabilidade mais reconhecidas e respeitadas internacionalmente. Foram 514,4 mil toneladas em 2024 — impulso que ajuda a explicar por que o país é peça-chave nessa transição. Minas tem sido o motor dessa virada, por isso o tema foi escolhido para integrar o painel “Da Terra à Transformação: o Valor ESG das Cooperativas do Café”, realizado pelo Sistema Ocemg, entidade de representação do cooperativismo no Estado, que acontecerá no segundo dia da SIC (06/11). “Quando falamos em café, Minas é vitrine e laboratório do país. Por aqui, nossas cooperativas já entregam sustentabilidade, qualidade e rastreabilidade, e agora avançam na agenda regenerativa, um passo natural para quem exporta para o mundo inteiro”, afirma Ronaldo Scucato, presidente do Sistema Ocemg.
É de Minas Gerais a primeira cooperativa do mundo a obter a certificação internacional de agricultura regenerativa na cafeicultura da Regenagri (auditada pela Control Union): a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), que compartilhará suas experiências no painel do Sistema Ocemg durante a SIC. O grupo iniciou com 5,5 mil hectares auditados, em 2023, e hoje já reúne mais de 15 mil hectares sob manejo regenerativo, adotando práticas voltadas à preservação da saúde do solo, aumento da biodiversidade, proteção dos recursos hídricos e fortalecimento da resiliência dos sistemas produtivos. O certificado, valorizado por compradores globais, garantiu à coop o acesso a mais de 50 países por meio de parceria com uma marca internacional e o resultado de 1,4 milhão de sacas movimentadas no último ano.

Outro exemplo sustentável que vem atraindo o olhar do mundo para a cafeicultura mineira — e que também será apresentado no painel do Sistema Ocemg na SIC — é o biochar. Na Zona da Mata, a produção e o uso desse biocarvão obtido através da pirólise (aquecimento com pouco oxigênio) da casca/palha de café vêm melhorando o solo da região e o desempenho dos produtores da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé). A transformação desse resíduo através dessa queima controlada captura e estabiliza o carbono da biomassa, evitando que ele retorne à atmosfera em forma de dióxido de carbono (CO₂). Além disso, por ser considerado um fertilizante de alta performance, com efeitos positivos para a retenção de água e nutrientes, a utilização dessa espécie de carvão biológico na terra reduz a dependência de fertilizantes.
Nas lavouras os resultados aparecem rápido. Levantamento interno da Coocafé mostra que após 11 meses da aplicação, as plantas de arábica ficaram mais vigorosas (cerca de 14,5 cm a mais de altura) e houve aumento da produção por planta (até 7,5 kg). Em algumas áreas, esse ganho se traduziu em até 17,6 sacas de café a mais por hectare. O solo também melhorou, com aumento de 9,2% de matéria orgânica, quase o triplo de potássio e 70,4% a mais de fósforo, sem alterar o pH (ou seja, sem acidificar).
Na cafeicultura, falar de soluções de agricultura regenerativa faz ainda mais sentido porque as lavouras cafeeiras são das mais impactadas pelos desafios climáticos — e isso já apareceu nas últimas safras. Em 2024, por exemplo, depois de um começo de ano úmido, a geada leve de agosto, seguida por ondas de calor e seca até a 3ª semana de outubro, exatamente na janela da florada, o resultado foi um menor pegamento e perda de potencial do arábica para 2025/26. Em contrapartida, o cultivo regenerativo dos grãos coloca o solo para trabalhar a favor do clima, reduzindo em até 38% as emissões de gases do efeito estufa (GEE) ligadas ao café, segundo cálculos da ONG internacional TechnoServe.
Ronaldo Scucato ressalta que produzir de forma sustentável é um dos valores centrais do cooperativismo, por isso exemplos dessas práticas merecem ser mostrados numa feira do porte da SIC, para inspirar e serem replicados por todo o país. “Quando trabalhamos com solo vivo, o resultado aparece na xícara e no bolso. O cooperativismo encurta o caminho da transição regenerativa e liga o desenvolvimento do campo ao desenvolvimento sustentável de Minas e do Brasil. É isso que queremos compartilhar, com essas experiências”, conclui.
DADOS
Café cooperativista no Brasil
54,2 milhões de sacas
O Brasil possui 79 cooperativas de café
US$ 1,9 em exportações
Café em Minas Gerais
28,1 milhões de sacas.
53% da produção nacional.
Cooperativas de café de Minas Gerais
53 cooperativas de café
22% do café exportado por Minas Gerais veio de cooperativas
6,7 milhões de sacas (45% da produção) foi o volume exportado pelo coop mineiro para mais de 50 países
14,9 milhões de sacas (53% da produção mineira)
5 em cada 10 xícaras de café mineiro vêm de cooperativas
27,5% do café brasileiro passa por cooperativas de Minas (14,9 milhões de sacas)
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