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Artigo – Como tirar o Brasil da pior posição histórica no ranking da corrupção?

Tudo começa de maneira quase imperceptível. Pequenos gestos, decisões momentâneas, permissões veladas. A trajetória institucional de um país não se altera por um único evento, mas pelo acúmulo dessas pequenas permissões que, juntas, criam um ambiente nebuloso, onde a transparência perde espaço para a desconfiança. Como o nevoeiro denso de um dos clássicos de Stephen King, esse ciclo incerto obscurece a visão e leva a escolhas que podem se tornar irreversíveis, com consequências devastadoras.

Não é de se estranhar, portanto, que o Brasil, segundo dados divulgados este mês, tenha visto sua posição no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) cair para o pior patamar da série histórica: o 107.º lugar entre 180 países. Esse declínio não é obra do acaso. É um reflexo direto da dificuldade crônica que temos em consolidar a transparência e a integridade como valores inegociáveis da nossa pátria. Mais do que uma simples estatística, esse dado expõe uma fragilidade estrutural: a governança no Brasil ainda carece de um compromisso sólido com a previsibilidade e a aplicação isonômica das regras.

Afinal, governança não é apenas um conceito abstrato, mas a base sobre a qual se sustenta qualquer Estado funcional. Ela pressupõe regras claras, previsíveis e aplicáveis a todos. No Brasil, no entanto, compliance é frequentemente percebido como um entrave burocrático, e não como um mecanismo de credibilidade e estabilidade. Essa visão distorcida compromete o fortalecimento das instituições, tornando-as vulneráveis à captura por interesses particulares.

Nós, porém, estamos ao lado daqueles que acreditam que onde há problema, há caminho. Se a corrupção se fortalece quando as instituições vacilam, é justamente na boa governança que encontramos o antídoto. Transparência não pode ser um discurso de ocasião – precisa ser fibra, conduta, hábito. As normas anticorrupção já existem, mas sua eficácia depende menos de sua mera presença e mais de sua assimilação e execução real. Regras soltas, sem contexto e sem clareza, não resolvem. Pelo contrário: geram desconfiança, alimentam a burocracia inerte e mantêm abertas as portas por onde os velhos vícios se infiltram.

A comunicação estratégica, nesse ecossistema, é um fator-chave. O controle social e a responsabilização só funcionam quando a informação é clara, acessível, bem difundida e sem brechas para distorções de sentido. Quando a comunicação falha, a percepção pública da corrupção se intensifica, alimentando a sensação de impunidade e desordem. Em situações de crises, então, as falhas virão à propulsão para o caos. 

Por tudo isso, a comunicação estratégica não pode ser vista apenas como um detalhe administrativo. Ela é uma ferramenta de transformação. Governos, empresas e instituições que investem em comunicação clara e coerente ganham credibilidade, engajam stakeholders, fortalecem a reputação e encontram êxito na missão. Dessa forma, comunicação e governança se entrelaçam como elementos indissociáveis para a construção de um Estado eficiente e confiável.

Países que conseguiram reduzir a corrupção não são perfeitos, mas entenderam essa equação. Dinamarca e Nova Zelândia, frequentemente no topo do IPC, não erradicaram os desvios, mas construíram sistemas sólidos que desincentivam a prática e reforçam a confiança pública. Fica claro que a questão central não é apenas ter regras, mas garantir que sejam compreendidas, seguidas e internalizadas. O compliance visto como o que de fato ele é: um ativo. 

Se o Brasil deseja também trilhar esse caminho, acreditamos que sim, é necessário reformar sua abordagem à governança, reforçando a transparência, a comunicação estratégica e a aplicação eficiente das normas. 

O desafio não é trivial, reconhecemos. Mas a história mostra que sociedades que investem na solidez institucional colhem os frutos de uma democracia mais robusta e um ambiente econômico mais previsível. O tempo para essa mudança não pode esperar mais.


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