
Nos últimos anos, virou moda colocar proteína em tudo: pão com whey protein, bolo e doces “fit” hiperproteicos, água com glutamina e colágeno, sem falar nos baldes de creatina que muitos consomem sem nem saber para quê. E o discurso é sempre o mesmo: proteína é sinônimo de saúde, força e corpo bonito. Mas será que esse exagero faz sentido?
A resposta é: não, pois exagerar na proteína é tão perigoso quanto exagerar em qualquer outro nutriente. O corpo humano tem limites claros para absorver e usar o que ingerimos.
Quando consumimos mais proteína do que o organismo precisa, o excedente não vira músculo — como muita gente acredita. Ele pode ser convertido em gordura, sobrecarregar o fígado e aumentar a excreção de resíduos nitrogenados, exigindo mais trabalho dos rins. Estudos mostram que dietas com alto teor proteico, especialmente sem acompanhamento profissional, elevam o risco de alterações renais e hepáticas, além de provocar desequilíbrios metabólicos.

Outro ponto importante: nenhum macronutriente é vilão ou herói. O corpo humano precisa de carboidratos (nossa principal fonte de energia), de gorduras boas (essenciais para hormônios e absorção de vitaminas) e, claro, de proteínas (para tecidos, músculos e inúmeras funções vitais), em proporções bem distribuídas. O segredo não está em escolher um “herói” e demonizar os outros, mas sim em buscar o equilíbrio.
Além disso, pessoas que já têm problemas de saúde — como hipercolesterolemia, doenças renais ou hepáticas (crônicas/agudas) — devem ter ainda mais cautela com o consumo proteico. E indivíduos aparentemente saudáveis não estão livres de riscos: exagerar pode abrir caminho para doenças futuras.
O curioso é que muitas vezes, a motivação para esta “super-proteinação” da alimentação, vem da ignorância ou do efeito manada: “se todo mundo está comendo muita proteína, eu também vou comer”. Essa é uma armadilha perigosa.

E é aqui que entra o papel do nutricionista. Só um profissional qualificado pode calcular, de acordo com a individualidade de cada um (levando-se em conta o quadro de saúde e doença, hábitos, preferências alimentares), a quantidade adequada de cada nutriente que se deve ingerir. O que pode ser ideal para um atleta, por exemplo, pode ser um excesso prejudicial para uma pessoa sedentária.
Portanto, cuidado com as modinhas: encher o prato de proteínas, desnecessariamente, pode ser uma estratégia ‘desinteligente’ e perigosa. Nosso corpo não precisa de excessos. Comer saudavelmente, é respeitar o equilíbrio entre carboidratos, gorduras e proteínas, sempre com orientação adequada.
Informe-se e cuide-se!
Até breve!
Marcela nutri

Marcela Rodrigues Rocha
Nutricionista (CRN9 – 5529), especialista em Gastronomia, Mestre em Ciências dos Alimentos e Doutoranda em Engenharia de Alimentos – USP.
@marceladricha
Fotos: FreePick
Referências
- Le Roy, T. et al. High Protein Intake Is Associated With Histological Disease Activity in Patients With NAFLD. Hepatology Communications, 2020.
- Sato, Y. et al. Effects of a High-Protein Diet on Kidney Injury under Conditions of Non-CKD or CKD in Mice. International Journal of Molecular Sciences, 2023.
- Piccoli, L. et al. High-Protein Processed Foods: Impact on Diet, Nutritional Status, and Possible Effects on Health. Nutrients, 2024.