O mundo nunca envelheceu tão rápido. Em 1960, a expectativa de vida no Brasil mal passava dos 50 anos. Hoje, já ultrapassa os 76 — e em poucas décadas, quase 40% da população terá mais de 60 anos. Esse dado, apresentado por Alexandre Kalache em seu livro A revolução da longevidade, que acaba de ser lançado pela Editora Vestígio, revela não apenas o impacto demográfico dessa mudança, mas a necessidade urgente de repensar como envelhecemos e como a sociedade se prepara para isso.
Médico, pesquisador e ex-diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Kalache é uma das maiores autoridades internacionais no tema. À frente do International Longevity Centre-Brazil (ILC-BR), ele dedica a carreira a traduzir estatísticas em políticas públicas e em caminhos para uma vida mais longa — e com qualidade.
O livro será lançado em Belo Horizonte na próxima quinta, 6 de novembro, a partir das 18h30, na Livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi). Na oportunidade, o autor participa de um papo com a jornalista Roberta Zampetti.
Em A revolução da longevidade, Kalache convida o leitor a olhar para a longevidade não como fardo, mas como conquista civilizatória. Para ele, envelhecer bem significa muito mais do que acumular anos: é manter autonomia, participação social e dignidade. “Não basta acrescentar anos à vida. É preciso acrescentar vida aos anos”, defende.
O autor explora conceitos que ajudou a consolidar, como o de envelhecimento ativo, que envolve quatro pilares essenciais: saúde, aprendizado ao longo da vida, segurança e participação. O primeiro deles, saúde, é entendido de forma ampla: não apenas tratar doenças, mas garantir prevenção e acesso equitativo ao sistema de saúde. Kalache cita experiências de países que investem em atenção primária, vacinação e programas de atividade física para idosos, capazes de reduzir custos hospitalares e melhorar a qualidade de vida.
O segundo pilar, aprendizado ao longo da vida, reflete a necessidade de manter o cérebro ativo e de oferecer oportunidades para que pessoas idosas continuem aprendendo, trabalhando ou se reinventando. Políticas de requalificação profissional, cursos universitários para a terceira idade e incentivo à inclusão digital são alguns dos caminhos apontados pelo autor.
Já o pilar da segurança diz respeito tanto à proteção social quanto ao ambiente físico. Kalache alerta que aposentadorias insuficientes e a falta de planejamento urbano tornam a velhice mais vulnerável, especialmente em países desiguais como o Brasil. Ele defende políticas de renda que assegurem dignidade, moradias acessíveis e cidades pensadas para todas as idades, com transporte seguro e espaços públicos inclusivos.
Por fim, a participação significa garantir voz e lugar social aos mais velhos. O autor critica o etarismo e a tendência de excluir os idosos do debate público, lembrando que eles carregam experiências e saberes fundamentais. Conselhos de idosos, projetos de voluntariado e maior presença de pessoas idosas em decisões políticas são exemplos de medidas que, segundo ele, fortalecem a cidadania e combatem a exclusão.
Para Kalache, esses quatro pilares não podem ser tratados de forma isolada: juntos, eles formam a base de uma sociedade preparada para a longevidade. Quando bem estruturadas, as políticas públicas não só transformam a experiência de envelhecer, mas beneficiam todas as gerações, criando um círculo virtuoso de saúde, conhecimento, segurança e participação social.
A revolução da longevidade também traz histórias, dados de pesquisas e experiências de diferentes países, mostrando que a transição demográfica pode ser encarada como desafio ou como oportunidade. Kalache aponta que investir na qualidade de vida dos mais velhos significa beneficiar toda a sociedade. Em sua visão, uma revolução da longevidade já está em curso: cabe a nós decidir se será marcada pela exclusão e desigualdade ou pela cidadania e inovação.

Sobre o autor
Alexandre Kalache é médico e especialista em saúde pública, referência global em envelhecimento. De 1995 a 2008, dirigiu o Programa de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial de Saúde (OMS), criando o conceito de Envelhecimento Ativo e o projeto Cidades e Comunidades Amigas da Pessoa Idosa. Hoje preside o International Longevity Centre – Brazil (ILC-BR) e atua como consultor internacional. Autor e ativista, defende a longevidade como conquista coletiva, guiada por solidariedade e justiça social.
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