Belo Horizonte é a primeira cidade de Minas a ter um Programa de Reabilitação Cardiopulmonar Intensiva do SUS. Chamado de HerCor, o projeto é desenvolvido na única unidade especializada em cuidados pós-hospitalares credenciada pelo Sistema Público de Saúde (SUS) na capital, a Clínica de Transição Paulo de Tarso. A estrutura do programa garante aos pacientes em recuperação cardíaca um plano de cuidado estruturado, multidisciplinar e contínuo, voltado para uma reabilitação intensiva e segura, realizada em ambiente clínico monitorado, sem necessidade de ocupar leitos de alta complexidade.
Nos hospitais gerais, o tempo de permanência é limitado e a alta rotatividade de leitos inviabiliza um trabalho fisioterapêutico prolongado. Já nas unidades de transição de cuidados, como a Paulo de Tarso, o paciente dispõe de acompanhamento contínuo e tempo terapêutico adequado para recuperar força muscular, resistência e autonomia funcional antes do retorno para casa.
“O HerCor foi estruturado para oferecer uma reabilitação cardiopulmonar completa, com segurança clínica e foco em resultados funcionais”, afirma o cardiologista Igor Cruz Morais, coordenador do programa. “É um modelo de cuidado integrado, que combina tecnologia, equipe multiprofissional e tempo assistencial adequado para promover uma recuperação efetiva e sustentável”, explica.
O programa é indicado a pacientes com doenças cardiovasculares recentes ou descompensadas, como infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, arritmias e pós-operatórios cardíacos. Esses perfis estão entre os que mais demandam internações no SUS e apresentam as maiores taxas de mortalidade. A reabilitação precoce, iniciada ainda na unidade de transição, reduz a fragilidade, acelera o retorno funcional e evita complicações que levariam a novas internações.

De acordo com a American Heart Association (AHA) e a European Society of Cardiology (ESC), a reabilitação cardiopulmonar pode reduzir em até 30% o risco de reinternação e é considerada uma das estratégias mais custo-efetivas da cardiologia moderna. Além dos benefícios clínicos, o modelo também se destaca pelo impacto econômico: o custo médio diário de um leito em unidade de transição corresponde a menos de 40% do valor gasto em um hospital de alta complexidade.
“Cada paciente reabilitado significa não apenas menos leitos ocupados no sistema, mas também mais autonomia e capacidade produtiva devolvidas à sociedade”, ressalta Dr. Igor Morais. “O impacto é clínico, econômico e social. Reabilitar é transformar gasto em investimento”, completa.
O HerCor funciona com monitoramento contínuo e sessões parametrizadas conforme metas clínicas. Os pacientes participam de treinos físicos supervisionados, recebem acompanhamento nutricional e psicológico e passam por atividades educativas sobre autocuidado e adesão ao tratamento. O ambiente hospitalar garante vigilância médica permanente e segurança para práticas mais vigorosas do que as possíveis em ambulatórios convencionais.
Ao final, os participantes recebem alta com melhores condições cardiorrespiratórias e desempenho físico superior ao esperado em internações tradicionais. “Muitos pacientes deixam o hospital com capacidade funcional próxima à de quem não teve um evento cardíaco recente”, relata o cardiologista.
Estudos apontam que a reabilitação cardiopulmonar é mais eficaz na redução da mortalidade cardiovascular do que intervenções isoladas como angioplastia, uso de AAS ou estatinas. Além de reduzir óbitos, o programa impacta diretamente o tempo de internação e a dependência funcional, indicadores centrais de eficiência assistencial.