
O Brasil registrou, em 2024, um recorde histórico de afastamentos do trabalho por transtornos psicológicos. Dados do Ministério da Previdência Social indicam que 472.328 licenças médicas foram concedidas por condições como ansiedade e depressão, um aumento de 68% em relação ao ano anterior.
A psicóloga Maria Klien avalia que esse crescimento reflete uma crise estrutural e social no ambiente de trabalho. “A intensificação das demandas laborais, a instabilidade econômica e a falta de espaços adequados para a saúde mental dentro das empresas são fatores que levam ao adoecimento emocional”, destaca.
Segundo a especialista, a cultura da hiperprodutividade tem agravado os impactos psicológicos sobre os trabalhadores. “A exigência contínua por alta performance, sem suporte adequado, expõe indivíduos a níveis de estresse incapacitantes, comprometendo não apenas a saúde mental, mas também a produtividade das corporações”, alerta Klien.
Ela ressalta que soluções paliativas não são suficientes para conter a crise e defende uma reestruturação profunda das condições de trabalho. “Políticas empresariais mais humanizadas, iniciativas governamentais voltadas à saúde mental e a ampliação do acesso a tratamentos psicológicos e psiquiátricos são passos essenciais para reverter esse cenário”, enfatiza.
A falta de acesso a serviços especializados também é um entrave para a recuperação dos pacientes. “Hoje, encontramos filas extensas no atendimento público e um alto custo nos serviços privados, o que torna a saúde mental um privilégio para poucos”, afirma.
Para enfrentar essa realidade, a psicóloga defende a inserção de programas de suporte dentro das empresas. “Os trabalhadores precisam de espaços de acolhimento, onde possam compartilhar suas dificuldades e encontrar apoio qualificado. Quanto mais cedo forem identificados sinais de sobrecarga emocional, mais eficaz será a prevenção”, argumenta.
Além do impacto na saúde, Klien alerta para as repercussões dessa crise na economia. “Empresas que negligenciam a saúde mental enfrentam absenteísmo, queda no desempenho e aumento da rotatividade. Investir no bem-estar dos funcionários não é custo, mas sim um fator essencial para melhorar a eficiência e a qualidade do ambiente de trabalho”, analisa.
Diante desse cenário alarmante, ela reforça a importância de medidas concretas para conter o avanço dos transtornos mentais. “A conscientização é um passo fundamental, mas só a implementação de ações estruturais garantirá a mudança necessária”, conclui.
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