
Na última semana tive a oportunidade de acompanhar o lançamento da Casa Cor Minas Gerais 2025 para a imprensa, um momento que, mais uma vez, reforça a relevância desse evento no calendário da arquitetura, do design e da decoração em nosso estado.
Este ano, a mostra ganha um significado ainda mais especial: a Casa Cor Minas celebra seus 30 anos de história, consolidando-se como um dos maiores eventos de arquitetura e design do país. Para marcar essa edição, a mostra acontece em um cenário emblemático de Belo Horizonte — a sede da PUC Minas Lourdes, no antigo prédio do Instituto Izabela Hendrix, espaço que carrega memória e tradição.
A edição de 2025 apresenta 49 ambientes, assinados por um time formado por 74 profissionais das áreas de arquitetura, design e paisagismo. É uma verdadeira celebração da pluralidade criativa: de um lado, nomes da velha guarda, já reconhecidos e admirados por suas trajetórias; de outro, jovens arquitetos e novos talentos que trazem frescor, ousadia e novas leituras sobre o morar contemporâneo. Esse encontro de gerações resulta em uma mostra rica, diversa e instigante.
Durante o lançamento, chamou-me especialmente a atenção o protagonismo dos materiais naturais: tecidos de fibras orgânicas, pedras em diferentes acabamentos e obras de arte que evocam a natureza de maneira poética. O mais interessante foi perceber como esses elementos dialogam com uma arquitetura moderna e contemporânea, criando ambientes sofisticados, mas ao mesmo tempo acolhedores. Essa combinação traduz muito bem a busca da arquitetura atual por integrar inovação, estética e sustentabilidade. Outro aspecto que me encantou foi notar como os ambientes desta edição estão com mais “cara de casa” e menos de mostra. Há uma atmosfera mais íntima, convidativa, como se cada espaço tivesse sido pensado para ser vivido de fato, e não apenas admirado. Essa aproximação torna a experiência ainda mais envolvente, porque nos faz imaginar como seria habitar aqueles cenários no dia a dia.

E não posso deixar de mencionar os tetos. Já havia observado essa tendência na Casa Cor São Paulo 2025, e aqui em Minas ela também se confirmou: os tetos deixaram de ser uma superfície neutra e sem graça para se tornarem protagonistas. Cada ambiente explorou esse plano de maneira criativa — ora com revestimentos, ora com cores, texturas ou iluminação — e o resultado ficou simplesmente incrível. É como se o olhar fosse constantemente convidado a descobrir algo novo, revelando a importância de tratar cada detalhe do espaço como parte de uma narrativa arquitetônica.


Entre tantos ambientes inspiradores, destaco cinco que mais me marcaram pela força estética e pela emoção que despertaram:
Casa Boa Vista Deca – Maraú Design Studio
Ao entrar na Casa Boa Vista Deca, tive a sensação de chegar a um refúgio de alma leve. Nada ali parece pensado para impressionar de forma distante; tudo convida ao convívio e à pausa. A cozinha e o estar se unem sem barreiras, tendo a ilha como ponto de encontro — quase como uma fogueira contemporânea em torno da qual as pessoas se reúnem para compartilhar histórias. O que me marcou foi o diálogo entre o rústico e o moderno: materiais naturais que trazem memória e calor, combinados a linhas mais limpas e atuais, que dão frescor ao espaço. O resultado é uma atmosfera que mistura tradição e contemporaneidade de forma harmoniosa, criando uma casa que não se vê apenas, mas que se sente.


Living Raízes – Manuela Senna
O Living Raízes, de Manuela Senna, transmite uma atmosfera de intimidade e recolhimento. A sala-bar tem algo de abrigo: um lugar onde o olhar repousa nos tons terrosos e encontra serenidade. As curvas suaves e as texturas naturais parecem contar histórias antigas, como se o espaço tivesse raízes que nos conectam a algo essencial.
Entre tantos elementos, um em especial me tocou: a obra “Floresta em tons de rosa”, do artista Arthur Grangeia. O painel, feito em travertino e desenhado à mão, traz poesia e força ao ambiente. Suas linhas delicadas evocam a natureza de forma sutil, transformando a sala em um espaço de contemplação. Esse diálogo entre arte, arquitetura e materialidade torna o espaço ainda mais instigante. Um brinde ali deixa de ser mero gesto social e passa a ser quase um ato de celebração da vida, envolto por um silêncio acolhedor que fala mais do que palavras.


Sala Brasileira – Ana Bahia
A Sala Brasileira, assinada por Ana Bahia, me envolveu com um misto de reconhecimento e novidade. É um espaço que nos faz sentir em casa, mas que também surpreende pelo inesperado. A combinação de materiais, cores e texturas revela uma brasilidade sofisticada, que não se prende a clichês: é identidade traduzida em elegância. O que mais me marcou foi a forma como o ambiente une passado e presente sem esforço — peças que carregam memória convivem com escolhas contemporâneas em perfeita harmonia. Além disso, a sala celebra os 80 anos da Líder Interiores, e essa homenagem se traduz não apenas no mobiliário, mas também em um olhar de respeito à trajetória do design nacional. Para mim, é um espaço que emociona justamente porque consegue ser clássico e atual ao mesmo tempo.


Sala de Jantar – Pedro Lázaro
A Sala de Jantar, de Pedro Lázaro, me impressionou pela força contida em sua simplicidade. Poucas interferências na estrutura foram suficientes para dar lugar a um espaço de grande densidade estética. Grande parte do mobiliário, desenhado pelo próprio arquiteto, estabelece um diálogo íntimo com as obras de arte escolhidas. O vazio intencional da entrada, em vez de ausência, funciona como pausa, preparando o olhar para o conjunto. O resultado é um ambiente que transmite bagagem cultural e maturidade criativa, equilibrando peso e delicadeza de forma rara.


Encontro e Alento – Framo Arquitetura
O ambiente Encontro e Alento, da Framo Arquitetura, me emocionou pela serenidade. A madeira, em suas múltiplas texturas, dita o ritmo do espaço e traz a sensação de tempo vivido. É como se cada superfície guardasse uma memória silenciosa.
O que mais me encantou foi o equilíbrio entre a força da matéria e a delicadeza da concepção. A natureza se revela em detalhes brutos, tratados com precisão, resultando em um espaço que acolhe sem precisar se impor. Há nele um convite ao alento — esse respiro que existe entre o olhar e o toque, entre o estar e o sentir. Para mim, é um ambiente que traduz o essencial com rara sensibilidade, mostrando que o verdadeiro luxo pode estar justamente na simplicidade bem construída.


Um olhar final
A Casa Cor Minas Gerais 2025 se revelou para mim não apenas como uma mostra de ambientes, mas como uma experiência sensorial e afetiva. Entre tradição e inovação, memória e futuro, cada espaço trouxe novas formas de pensar o morar e, sobretudo, de sentir a casa.
Nesta edição de 30 anos, a mostra reafirma seu papel de ser palco e, ao mesmo tempo, laboratório de ideias, capaz de inspirar profissionais e visitantes. Saí com a sensação de que mais do que um evento, a Casa Cor é uma celebração da vida que acontece dentro dos espaços que habitamos.

Ana Luiza Mezencio Leal Lima
Arquiteta, urbanista e lighting designer
@estudiocasa.arq