
Em Passagem de Mariana/MG, a Escola Estadual Coronel Benjamim Guimarães ganhou ritmo, rima e muita expressão. O projeto Hip-Hop na Passagem vem trazendo a cultura urbana direto para as salas de aula, mostrando que é possível aprender com o corpo, o som, a palavra e o movimento.
O projeto Hip-hop na Passagem é uma realização do Clube Osquindô, em parceria com a Escola Estadual Coronel Benjamim Guimarães, com a coordenação dos arte-educadores Maria Fernanda e Matheus Morais, da Osquindoteca. A iniciativa, de caráter educacional, cultural e artístico, promove oficinas com foco nos cinco elementos fundamentais da cultura hip-hop: o graffiti, o break, o MC, o DJ e o conhecimento. A proposta utiliza esses elementos como ferramentas pedagógicas para estimular a expressão artística, o pensamento crítico, o protagonismo da juventude e a valorização das vivências individuais e coletivas dos estudantes. Ela nasceu da necessidade de aproximar os estudantes da arte urbana e de suas múltiplas dimensões, reconhecendo o hip-hop como uma potente manifestação cultural de origem periférica que permite aos jovens se expressarem, se reconhecerem e construírem uma visão crítica e transformadora da realidade.
Segundo Matheus Morais, um dos coordenadores do projeto, a ideia surgiu a partir de uma experiência anterior: “O projeto nasceu ano passado com Novembro Negro, voltado para os cinco elementos do hip-hop. Aquela ação serviu de piloto para a criação do Hip-Hop na Passagem”, explica. Hoje, o projeto atende cerca de 35 alunos do 1º ano do Ensino Médio e 15 alunos do 6º ano integral do Ensino Fundamental II da instituição. “O projeto é muito importante para os meninos e meninas. A gente troca ideias sobre tudo, apresentamos os elementos do hip-hop para eles. Tem sido interessante acompanhar esse processo, principalmente no desenvolvimento da autoestima dos alunos”, completa. O fortalecimento de laços de coletividade também estão no escopo do projeto: “Queremos conscientizar os meninos, trazer informações, ampliar as perspectivas sobre o futuro”, conclui Matheus Morais.
As atividades acontecem na Escola Estadual Coronel Benjamin Guimarães e também na sede da Osquindoteca, rua Eugênio E. Rapallo, 625, em Passagem de Mariana/MG, proporcionando aos alunos diferentes espaços de aprendizado, criação e convivência. Com início em março de 2025 e previsão de encerramento em novembro do mesmo ano, o projeto se desenvolve ao longo de 28 encontros distribuídos em 7 meses de trabalho contínuo. As ações incluem oficinas práticas, rodas de conversa e produção colaborativa. Os estudantes têm a oportunidade de conhecer a história e os fundamentos do hip-hop, explorar técnicas de escrita, improvisação, ritmo, rima e flow, além de participar de momentos de escuta musical, análise de letras e debates sobre questões sociais relevantes. Oficinas específicas de graffiti, técnicas de desenho e break dance complementam a proposta, oferecendo experiências com todos os elementos do hip-hop.
A realização do projeto Hip-Hop na Passagem, parte das ações do projeto Observatório Jovem, conta com uma equipe dedicada e diversa. A produção cultural é assinada por Débora Guimarães e Gisele Alves; a comunicação é conduzida por Mirian dos Santos e Janine Xavier; e as ações educativas são coordenadas pelos arte-educadores da Osquindoteca.
Hip-hop: movimento, arte e resistência
Nascido em Bronx, em Nova York, na década de 1970, o hip-hop, um dos principais movimentos de arte urbana, é mais que um gênero musical: é movimento cultural composto por cinco elementos principais: o rap (ritmo e poesia), o Djing (uso de toca-discos para criar batidas e manipular sons), o breaking (dança conhecida como breakdance), grafite (arte visual urbana) e o conhecimento.
Nos Estados Unidos, os grupos pioneiros foram o Afrika Bambaataa, Kool Herc e, logo em seguida, nomes como Public Enemy, A Tribe Called Quest, Arrested Development, entre outros, ajudaram a consolidar o movimento como uma forma de expressão política, cultural e social.
O hip-hop chegou ao Brasil no início da década de 1980, principalmente na cidade de São Paulo. Nas periferias da capital, os jovens começaram a se reunir em locais como a Galeria 24 de Maio e na estação de metrô Santo Bento, pois possuía um chão liso, ideal para os passos do breaking. Com o tempo, a estação São Bento se tornou ponto de referência e resistência, berço de festivais e de grandes nomes do hip-hop nacional. Artistas como Kika Maida, Rose MC, Sharylaine, Bete, Baby, Renata, Lady Rap, Thaide e DJ Hum, Nelson Triunfo, Nino Brown, MC Jack, Rooney Yo-Yo, dentre tantas outras pessoas que ao longo dos anos se tornaram referências como pioneiros(as) da cultura hip-hop no País.