
O aumento do uso de medicamentos psiquiátricos e a ampliação do acesso à psicoterapia entre jovens adultos brasileiros sinalizam uma mudança geracional no tratamento das questões relacionadas à saúde mental. De acordo com o Ipsos Global Health Service Monitor 2023–2024, a Geração Z (nascidos a partir de 1997) e os Millennials (nascidos entre 1981 e 1996) lideram o uso de recursos terapêuticos para lidar com condições como ansiedade, estresse e depressão.
No Brasil, 17% dos jovens de 18 a 29 anos declararam fazer uso de medicamentos para questões psicológicas, número significativamente superior ao registrado entre a população com mais de 60 anos, que atinge apenas 7%. Além disso, 34% dos membros da Geração Z já iniciaram ou mantêm acompanhamento psicológico, percentual que supera a média nacional de 24%.
O levantamento da Ipsos revela ainda que 28% dos brasileiros já recorreram a medicamentos voltados para a saúde mental em algum momento da vida, e 14% continuam em uso contínuo. O país figura entre os que mais consomem esse tipo de substância no mundo, ao lado dos Estados Unidos e do Canadá.
A psicóloga Maria Klien, que atua com foco em saúde mental e práticas integrativas, observa que a maior abertura entre os jovens para buscar tratamento representa um avanço, mas ainda insuficiente.
“A medicalização e o acesso à terapia vêm crescendo entre os mais jovens, o que indica uma sensibilidade maior para o autocuidado emocional. No entanto, essa tendência não se reflete de forma igualitária em todas as faixas etárias e contextos sociais”, afirma a profissional.
Apesar desse crescimento entre os mais novos, o estudo também evidencia um paradoxo. Cerca de 31% dos trabalhadores brasileiros afirmaram não adotar nenhuma medida ativa para cuidar da saúde mental. Esse dado preocupa especialistas que alertam para o esgotamento emocional como fator de risco silencioso nas relações de trabalho contemporâneas.
Além da disparidade geracional, o preconceito ainda configura uma barreira relevante. Em muitos ambientes, falar sobre emoções ou buscar ajuda é interpretado como sinal de fraqueza ou incompetência. Para Maria Klien, esse estigma deve ser combatido com políticas institucionais e educação psicoemocional.
“É urgente romper com a ideia de que sofrimento psíquico é fraqueza. O cuidado com a saúde mental precisa ser incorporado como parte essencial da vida adulta e das políticas públicas”, defende.
Programas de bem-estar corporativo e estratégias de prevenção são apontados como medidas eficazes para mitigar quadros de sofrimento emocional em ambientes profissionais. Iniciativas que incluem escuta ativa, suporte psicológico e capacitação de lideranças têm demonstrado impacto positivo na redução de afastamentos e no aumento da produtividade.
A pesquisadora também destaca que o modelo terapêutico ideal não se restringe ao uso de fármacos ou ao atendimento clínico individual.
“É preciso ampliar o olhar. A saúde mental se sustenta em vínculos, ambiente seguro, reconhecimento subjetivo e práticas que integrem corpo e mente. Apenas a intervenção medicamentosa, sem suporte terapêutico, não resolve o sofrimento em sua profundidade”, afirma Maria Klien.
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