O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a segunda principal causa de morte no mundo, atrás apenas das doenças cardíacas. A data de 29 de outubro, instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Federação Mundial de Neurologia como o Dia Mundial do AVC, tem como objetivo ampliar a conscientização sobre a importância da prevenção, do reconhecimento imediato dos sintomas e da busca por atendimento rápido. Mas além da urgência no socorro, especialistas alertam para outro ponto crítico: a reabilitação precisa começar nas primeiras 48 horas após o episódio para minimizar sequelas motoras e cognitivas.
Dados preliminares da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais revelam a dimensão do problema no estado. Entre janeiro e junho de 2025, foram registradas 10.378 internações e 2.030 óbitos por AVC. Em todo o ano de 2024, o número de hospitalizações chegou a 24.704, com 4.180 mortes pela mesma causa.
No Brasil, a cobertura de reabilitação ainda é insuficiente. Um estudo conduzido em 2024 por pesquisadores ligados ao Ministério da Saúde revelou que apenas 24,6% dos pacientes que sobrevivem ao AVC recebem fisioterapia após a alta hospitalar. Entre os que apresentam limitações físicas, 73,4% não têm qualquer tipo de acompanhamento, o que compromete a recuperação e aumenta o risco de dependência permanente.
Esse cenário já havia sido apontado pela Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, realizada em 2019, que indicou que 1,9% da população adulta brasileira já sofreu um AVC — número que salta para 5,6% entre os idosos com mais de 70 anos. Os dois levantamentos convergem para um mesmo desafio: ampliar o acesso à reabilitação estruturada no país.
A World Stroke Organization, entidade que reúne especialistas de mais de 100 países, recomenda que o processo de reabilitação seja iniciado em até dois dias após o AVC. O tratamento envolve múltiplas abordagens: fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, suporte psicológico e orientação nutricional.
Estudos recentes reforçam essa diretriz. Em 2025, a American Heart Association divulgou os resultados de uma pesquisa realizada em 12 hospitais canadenses: pacientes que realizaram caminhadas diárias, além da fisioterapia convencional, apresentaram melhora significativa na mobilidade e na qualidade de vida já na alta hospitalar. No Reino Unido, a Cochrane Stroke Group, vinculada à Universidade de Oxford, também confirmou que a reabilitação precoce aumenta substancialmente as chances de recuperação funcional.
“Quanto antes iniciarmos esse processo, maiores são as chances de devolver autonomia e reduzir sequelas permanentes”, afirma o neurologista Diego Dorim, da Suntor Clínica de Transição. O fisioterapeuta Higor Vieira, que coordena a equipe multidisciplinar da mesma instituição, complementa: “Nos primeiros dias após o AVC, cada exercício conta. Trabalhamos força, equilíbrio e coordenação de forma intensiva para estimular o cérebro a reaprender funções. Quando o paciente percebe a evolução, mesmo em pequenos movimentos, a motivação cresce e o tratamento ganha mais força”.
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