
Com a taxa Selic em 15% ao ano — patamar definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em julho de 2025 — e um cenário marcado por tensão política e desaceleração econômica, a pergunta que ecoa entre profissionais e investidores é: vale a pena abrir um negócio agora?
A resposta, segundo Débora Neves, diretora do allhands, comunidade para líderes e empresários, está menos ligada ao momento e mais à preparação do empreendedor. “O momento ideal é uma ilusão. O que existe é o empreendedor preparado, que resolve uma dor real de mercado e administra o negócio de forma inteligente”, afirma.
Cenário é desafiador, mas não paralisante
A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, é referência para todas as demais taxas — do crédito bancário ao financiamento de máquinas, imóveis e capital de giro. Com juros altos, o custo de captar recursos aumenta, o consumo desacelera e setores como varejo, serviços, construção civil e bens duráveis sentem impacto direto.
“Pequenas empresas, que muitas vezes dependem de crédito para girar, sofrem ainda mais. O consumidor compra menos a prazo e adia decisões importantes, o que reduz a demanda e afeta o faturamento”, explica a executiva.
No mercado de investimentos, a alta dos juros também desloca recursos que poderiam ir para novos negócios. Investidores, diante de retornos elevados e garantidos em produtos de renda fixa, tendem a priorizar aplicações como CDBs e títulos do Tesouro, reduzindo o apetite por risco em startups e empresas nascentes.
Ainda assim, Débora destaca que períodos como o atual podem favorecer modelos de negócio mais enxutos e bem geridos. “Momentos de instabilidade são oportunidades para quem aposta em operações digitais, com boa gestão de caixa e foco em resolver problemas concretos. O modelo lean, que permite testar ideias com risco controlado, é um caminho inteligente”, diz.
Para ela, a mudança de perfil do empreendedor bem-sucedido já está em curso. “Não é mais o aventureiro. É quem estuda, planeja, começa pequeno e faz o básico bem feito. Ter uma rede de apoio sólida, mentores qualificados e um plano estruturado aumenta a segurança para enfrentar uma jornada que é solitária e repleta de altos e baixos.”

Instabilidade não é algo novo
Segundo dados do IBGE, em 2022, cerca de 60% das empresas no Brasil encerraram suas atividades antes de completar cinco anos. “Não podemos romantizar o empreendedorismo. A taxa de mortalidade é alta e independe do cenário político e econômico. Nosso papel no allhands é ajudar a reduzir esse índice, preparando o empresário para enfrentar crises, que sempre vão existir, e usá-las a seu favor”, afirma.
Para isso, a organização promove a imersão all scale, um programa de dois dias voltado tanto para empreendedores que buscam reestruturar seus negócios, quanto para futuros empresários que desejam nascer com uma visão escalável, avaliando números do mercado, definindo o cliente ideal e traçando estratégias consistentes.
“Se você quer empreender, a pergunta não deve ser ‘é o momento certo?’, mas sim ‘estou preparado para fazer isso de forma inteligente?'”. Com as ferramentas, mentores certos e visão de longo prazo, é possível transformar incerteza em oportunidade. O Brasil continua sendo um dos países mais empreendedores do mundo — e isso não vai mudar”, conclui Débora.