
Uma pesquisa da consultoria de recrutamento executivo Fesa Group e da TM20 Branding, empresa especializada em valor de marca, traz um dado interessante sobre as maiores prioridades dos CEOs brasileiros: de acordo com o estudo, mais de 64% dos executivos afirmam que as pessoas estão entre os seus principais desafios. É por causa de números como esse que a área de Gente e Gestão assumiu um grande protagonismo no ambiente corporativo nos últimos anos.
Para muitos, esse nome pode não ser tão familiar. “O que aconteceu com o time de Recursos Humanos (RH)?”, podem perguntar. De maneira resumida, é possível dizer que esse novo setor trata-se de um “RH 2.0”, muito mais preparado para lidar com as demandas atuais do mercado.
A área de Gente e Gestão passou a ser um diferencial enorme nas empresas por não se restringir aos processos e práticas tradicionais das equipes de RH. A sua abordagem é mais estratégica por ser centrada, literalmente, nas pessoas que compõem a organização e no impacto que elas trazem aos resultados do negócio.
Além disso, com a inovação tecnológica, a área de Recursos Humanos tem se beneficiado da aplicação de Inteligência Artificial, transformando o setor e trazendo mais eficiência e precisão em diversas etapas dos processos de gestão de pessoas. Ela é especialmente utilizada em atividades como recrutamento e seleção, gestão de desempenho, engajamento de colaboradores e análise de dados organizacionais.
Chega de estabelecer um foco na execução de rotinas operacionais e atividades manuais. Esse novo modelo busca entender o ser humano como um agente central no crescimento da empresa, indo além de tarefas administrativas e caminhando para a inovação.
Como é o dia a dia de um profissional de Gente e Gestão?Quando pensamos no RH tradicional, alguns processos clássicos já vêm à cabeça, como folhas de pagamento, recrutamentos e admissões. A área de Gente e Gestão é justamente uma evolução dessa estrutura, conectando a experiência humana às metas estratégicas da companhia. Estamos falando de ações mais personalizadas, dados em tempo real e uma escuta ativa dos membros da equipe.
Portanto, o profissional do setor participa e dá suporte a uma série de outras atividades. Mais do que recrutar, essa pessoa organiza treinamentos, acompanha indicadores de clima, oferece apoio no atendimento aos colaboradores e contribui na execução das estratégias de endomarketing, cultura e desenvolvimento humano.
Em resumo, quem ocupa essa posição é crucial na promoção do bem-estar dos profissionais da companhia, na cultura organizacional e na construção de ambientes que impulsionam performance, engajamento e inovação, além de ajudar no desenvolvimento de lideranças. Basicamente, ela é a responsável por assegurar uma boa experiência em todas as etapas da jornada de quem integra a empresa.
Focos de atençãoConsiderando que o mercado não para de se transformar, é um fato que as empresas precisarão preparar os seus colaboradores para essas mudanças, especialmente aquelas ligadas à incorporação de novas tecnologias. No entanto, isso passa por uma estruturação sólida da área de Gente e Gestão, já que esse setor é capaz de direcionar as prioridades das organizações ligadas às pessoas.
Portanto, algumas das suas principais características devem ser trabalhadas com foco total pelas companhias nos próximos anos, como:
- RH com foco em dados (People Analytics): a adoção de ferramentas de análise de dados no RH está transformando a forma como as decisões são tomadas. Com o uso da metodologia de People Analytics, é possível entender padrões de comportamento, prever movimentos internos, antecipar problemas de clima e retenção e identificar os fatores que impactam diretamente o desempenho dos times. Essa abordagem permite que a área de Gente e Gestão atue com mais precisão, oferecendo soluções baseadas em evidências e não apenas em percepções.
- Humanização das relações: à medida que o ambiente corporativo se torna mais exigente, cresce também a importância de relações mais humanas dentro das organizações. Isso significa criar políticas de trabalho mais flexíveis, investir em programas de escuta ativa, promover diálogos mais abertos entre lideranças e equipes e fortalecer a cultura do cuidado. A humanização ajuda a reduzir o turnover, melhora o engajamento e contribui diretamente para o bem-estar das pessoas – um dos principais ativos de qualquer empresa atualmente.
- Inclusão e diversidade como estratégia de negócio: diversidade e inclusão deixaram de ser pautas restritas ao compliance para se tornarem pilares estratégicos. Empresas que valorizam diferentes perfis, histórias e perspectivas ampliam sua capacidade de inovação e conexão com públicos diversos. A área de Gente e Gestão é essencial nesse processo, tanto na estruturação de políticas afirmativas quanto no acompanhamento constante da cultura organizacional para garantir ambientes realmente inclusivos e seguros.
- Cultura organizacional em evidência: com equipes cada vez mais híbridas, multiculturais e espalhadas geograficamente, fortalecer a cultura organizacional será um desafio central nos próximos anos. Mais do que definir valores, será preciso vivê-los no dia a dia – da contratação às práticas de liderança. O papel da área de Gente e Gestão será assegurar que essa cultura esteja alinhada à estratégia da empresa e que ela seja compreendida, praticada e compartilhada por todos, independentemente do formato de trabalho.
- Investir na marca empregadora: em um cenário corporativo cada vez mais competitivo, a marca empregadora deixou de ser um diferencial para se tornar uma necessidade estratégica. Não se trata apenas de atrair talentos, mas de construir uma reputação sólida que reflita, de fato, a experiência vivida pelos colaboradores. A área de Gente e Gestão tem o know how de ouvir com atenção, promover ambientes inclusivos e garantir que cada jornada profissional seja significativa, desde o onboarding até os momentos de desenvolvimento e reconhecimento.
Poder de adaptaçãoPor fim, vale reforçar que todos os tópicos anteriores são possíveis de serem aprimorados dentro da área de Gente e Gestão por conta de um valor básico, que é intrínseco ao setor: o olhar para a adaptação constante. As tendências de hoje não serão as de amanhã. O mercado se renova sem parar, o que faz com que o potencial desse time de gerir pessoas de forma individualizada garanta que as empresas se atualizem e cresçam rapidamente.
Esse poder para se adaptar a transformações também se traduz na maneira como a área responde a contextos imprevisíveis. Mudanças econômicas, novas legislações e movimentos sociais exigem respostas rápidas, sensíveis e bem coordenadas. Isso torna esse time o responsável por liderar transições de forma estruturada, garantindo que os colaboradores estejam preparados para os novos cenários e que o negócio continue operando com estabilidade e propósito.
Além disso, adaptar-se significa saber equilibrar as expectativas das lideranças com as necessidades das equipes. Em um momento em que modelos de trabalho híbridos, saúde mental e senso de pertencimento ganham protagonismo, a área atua como uma ponte entre os interesses estratégicos da empresa e o bem-estar real das pessoas. É um papel de mediação para articular mudanças, crucial para guiar os movimentos da organização.
Contudo, a área só consegue ser eficiente e estratégica como centro do negócio, quando tem o apoio incondicional do CEO para estar presente e influenciar nas tomadas de decisão do negocio visando a obtenção de resultados sustentáveis.
Em suma, a importância de Gente e Gestão está justamente na sua capacidade de se reinventar. Mais do que acompanhar tendências, esse setor antecipa movimentos, transforma cenários e impulsiona o crescimento das empresas a partir das pessoas. O futuro do trabalho já está em curso – e é a adaptabilidade que vai definir quem estará preparado para ele.

Suzie Clavery é CHRO Latam da TotalPass. Pós-graduada em Marketing pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e com MBA em Felicidade Organizacional pela Happiness Business School e ISEC Lisboa. Possui mais de 15 anos de experiência em employer branding, autora do primeiro livro sobre o assunto no país, “Isso é Employer Branding?!”, e cofundadora do Employer Branding Brasil.
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