
Não saber ler e escrever foi como viver no escuro por mais de 60 anos para o trabalhador rural José das Dores Silva (59). Funcionário de uma fazenda de café em Varjão de Minas, ele hoje mal se contém de tanta alegria, pois acaba de aprender a ler e escrever suas primeiras palavras em um curso que durou 100 dias na propriedade onde trabalha.
“Eu vivi no escuro por muito tempo e hoje eu consigo enxergar. Não tem nada nesse mundo que me desafiou tanto quanto a falta da escola. E eu vou continuar estudando, não vou parar não”, promete José das Dores.
Ele foi um dos 11 primeiros alunos do curso “Cultivando Educação: Todos Lendo e Aprendendo em 100 Dias”, a primeira turma de um projeto criado pelo Instituto Marina e Flávio Guimarães (IMFG), em parceria com o Guima Café, com o propósito de levar cidadania a trabalhadores analfabetos no interior de Minas. O IMFG é mantido pelo Grupo Bmg.
Neste projeto – um dos mais de 30 atualmente em andamento na instituição -, as aulas são conduzidas por educadores do Sistema Divina Providência. Para a professora do curso Renata Gomes, foi uma jornada “gratificante, especial e inspiradora”. Segundo ela, os alunos evoluíram bastante ao longo do curso, conquistando a cada dia mais confiança e domínio do conteúdo. “Eles se sentiram mais motivados e realizados ao perceberem o próprio progresso. Depois das aulas, muitos expressavam entusiasmo e gratidão por aprenderem algo novo “, conta a professora.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram claramente a desigualdade no acesso à educação no país. Segundo o Instituto, em 2023, cerca de 5,2 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais não eram alfabetizados, uma taxa de 15,4%. Entre os mais jovens os índices caem progressivamente — 9,4% a partir dos 40 anos, 6,5% a partir dos 25 anos e 5,4% entre os que têm 15 anos ou mais — sinalizando maior acesso à educação nas gerações recentes.
“A alfabetização de adultos é um dos maiores desafios do país, especialmente nas áreas rurais. Por isso, o IMFG reafirma seu compromisso e investe na educação como força motriz de dignidade e inclusão social. A colheita, desta vez, foi diferente, e os frutos prometem transformar vidas”, afirma a diretora executiva do Instituto Marina e Flávio Guimarães, Rosana Aguiar.