
O número de bebês nascidos de mulheres acima de 40 anos de idade é maior que o de adolescentes pela primeira vez na história americana, segundo dados do National Center for Health Statistics (NCHS). Os partos em mulheres acima de 40 anos aumentaram 193% desde a década de 90 enquanto caíram 7% naquelas entre 20 e 24 anos. Em nossos país houve um aumento de 56% no número de partos em mulheres na faixa etária de 35 a 39 anos e de 36% na faixa de 40 a 44 anos.
A fecundidade vem caindo em países como Estados Unidos, Portugal, Espanha e França. Os números têm ficado abaixo de 2.1 criança por mulher, o que é considerada uma taxa adequada para recompor a população. No Brasil, observam-se números semelhantes: a taxa de fecundidade vem caindo: era de 2,32 filhos por mulher em 2000 e caiu para 1,57 em 2023.
As taxas de fecundidade devem continuar caindo até 2030 segundo algumas previsões. As mudanças culturais e sociais levaram as mulheres ao mercado de trabalho e a procura de mais educação, aliadas à menor mortalidade infantil e aos elevados custos da educação dos filhos, são fatores que podem explicar o fenômeno que não poupa nenhum país, mesmo aqueles tradicionalmente com altas taxas de natalidade como a China e a Índia.
A infertilidade, por outro lado, está aumentando e pode afetar uma em cada seis pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em muitos casos, o tratamento dessas pessoas implica na realização de técnicas de reprodução assistida que, infelizmente, não estão disponíveis para todos. Dados recentes revelam que à medida que as mulheres buscam mais educação e têm acesso ao planejamento reprodutivo acabam por adiar a gestação e, quando decidem engravidar, o número de filhos é reduzido.
Engravidar ou não engravidar é uma pergunta que muitas mulheres eventualmente se fazem e, talvez durante o mês de maio quando se celebra as mães, muitas são chamadas a refletir sobre o tema. Em meio a essa avalanche de mudanças sociais, culturais e econômicas ocorridas nos últimos 50 anos, a maternidade também evoluiu assim como a postura das mulheres diante da gravidez e da construção de uma família. As mulheres, entretanto, não podem ignorar um fato biológico: há um número não renovável de óvulos em seus ovários, que se reduz rapidamente a partir dos 35 anos e, infelizmente, não há métodos conhecidos para manter nem renovar a chamada “reserva ovariana”. Nesses casos, o congelamento de óvulos é a solução para quem não sabe ou não se decidiu sobre a maternidade.
Muitas mulheres pensam que podem adiar a gravidez confiando nos avanços da ciência para ajudá-las a alcançar a maternidade quando assim o quiserem, o que pode não ser verdade. Infelizmente, o declínio da fertilidade já começa naturalmente por volta dos 25-30 anos de idade, e segue acelerado após os 35 anos, de forma que as chances de infertilidade podem chegar a 50% aos 41 anos e 90% aos 45. Mesmo quando são utilizadas as modernas técnicas de reprodução assistida (TRA), a idade feminina é o principal fator limitante de sucesso.
É verdade que os avanços científicos e tecnológicos no campo da Medicina Reprodutiva deram às mulheres novas perspectivas, pois além de poder controlar seu ciclo reprodutivo com o uso dos modernos contraceptivos, permitiram escolher ou não a maternidade, o número de filhos e quando tê-los. As técnicas de reprodução assistida (TRA) abriram inúmeras oportunidades para a formação de novas famílias. Mulheres com os mais variados problemas além da infertilidade podem receber tratamentos sofisticados que permitem, por exemplo, que aquelas sem útero, casais homoafetivos femininos e masculinos ou aquelas que entraram na menopausa precocemente engravidem e tenham filhos saudáveis.
Neste mês de maio quando as campanhas publicitárias em todas as mídias fazem uma apologia à maternidade e muitas mulheres se sentem pressionadas pelo relógio biológico implacável algumas reflexões são necessárias. Conciliar a maternidade com os compromissos profissionais é uma tarefa complexa e os níveis de burnout (esgotamento físico e mental) nessas mulheres têm aumentado. O mercado de trabalho nem sempre acolhe aquelas que escolhem serem mães e a maternidade é um dos fatores que acentua a desigualdade salarial entre homens e mulheres.
Na verdade, as mulheres da geração Z têm adiado ou desistido da maternidade em prol da carreira e da saúde mental, pois acompanharam os enormes desafios enfrentados pela geração millenial. Pesquisas recentes revelam que a maternidade é ponto importante de desigualdade salarial e avanços na carreira, o que tem levado muitas mulheres jovens a desistir de engravidar. Muitas daquelas que regressam ao trabalho após o parto não têm acesso a benefícios como creche ou licença parental para cuidar de uma criança doente, por exemplo.
Além disso, aquelas que precisam enfrentar tratamentos de reprodução assistida têm pouco apoio financeiro e emocional no trabalho. Assim, para que as novas gerações não tenham que escolher entre ter uma carreira ou uma família, é preciso rever as políticas de auxílio a apoio para que o direito humano básico de decidir quando e como formar uma família seja devidamente respeitado, pois estudos revelam que a prosperidade, a alegria e o crescimento econômico serão a recompensa para aqueles que se atreverem a juntar-se à luta pelo acesso universal aos cuidados de saúde reprodutiva e construção de famílias.

Márcia Mendonça Carneiro
Diretora científica Clínica Origen BH
Professora Titular- Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Faculdade de Medicina da UFMG