Alunos prestaram atendimento médico em vilarejos do Benim, na África
Em um cenário de extrema vulnerabilidade, onde a fome e a carência de recursos básicos são uma realidade, um grupo de estudantes de medicina participou de um projeto que levou assistência médica à população de vilarejos no Benim, o quinto país mais pobre do continente africano.
O projeto da Missão África, realizado pela Inspirali – principal ecossistema de educação médica do país, proporcionou atendimento médico, no período de 24 de janeiro a 7 de fevereiro, para pessoas de dez diferentes vilarejos nas cidades de Adjarra e Ganvie.
A iniciativa ofereceu cuidados de saúde, incluindo procedimentos cirúrgicos, visitas domiciliares nos vilarejos locais, orientações sobre higiene sanitária, orientação sexual e ações de educação em saúde nas escolas. E resultou ainda em uma oportunidade única de desenvolvimento profissional e humano aos estudantes e docentes que atuaram como missionários.
Dura realidade
A fome é uma constante na vida da população dos vilarejos atendidos pela Missão África. Os estudantes testemunharam a luta diária da população para sobreviver e enfrentar as condições adversas. A maioria dos moradores enfrenta a extrema pobreza, com acesso limitado a saneamento básico e infraestrutura de energia elétrica, educação e saúde.
Essa experiência humanitária deixou marcas profundas nos médicos em formação e nos jovens profissionais. “O momento que mais me impactou foi quando atendi uma senhora idosa, que reclamava de cansaço e falta de ar. Fiz os exames e diagnostiquei pneumonia. Entreguei os medicamentos, informei que em breve ela estaria boa novamente. Mas ela não pareceu nem um pouco satisfeita. Por fim, perguntei porque ela não estava feliz. Ela disse que estava há cinco dias sem comida e que isso eu não conseguiria solucionar”, recorda emocionada Aline Oliveira de Souza, aluna do 12º período de Medicina da Faseh.
Thomás Antônio Vargas de Almeida Sardinha, ex-aluno da Faseh, também ficou especialmente abalado após um atendimento. “Era um paciente de cerca de 80 anos. Após o exame, notei que ele estava com uma ferida na perna, nitidamente infectada. Fiz o tratamento, entreguei os remédios e orientei sobre os cuidados para fazer em casa. Então, o paciente fez um gesto apontando para a boca para mim. Não entendi o que ele estava querendo dizer, achei que queria medicamentos para o tratamento domiciliar. Posteriormente, o tradutor me explicou que, na verdade, o que ele queria era comida. Nunca tinha visto pessoas em situação tão precária, sem conseguir atender suas necessidades mais básicas. Esse foi meu maior choque de realidade”.
Aprendizados
A Missão África transformou vidas no Benim e também deixou uma marca definitiva nos corações e mentes desses jovens profissionais. Além das habilidades técnicas adquiridas, eles aprenderam lições humanas inestimáveis.
Segundo Thomás, ter participado da Missão Amazônia e da Missão África mudou sua visão de mundo. “Acho que o voluntariado na área da saúde é extremamente importante. Cada estudante, se tiver a oportunidade, deveria vivenciar experiência semelhante. E não necessariamente na África ou na Amazônia, mas também na nossa região. Para enxergar mais além, ter outra visão a respeito de saúde pública, de infraestrutura de saúde e tudo que gira em torno do atendimento humanitário”.
O jovem, que concluiu o curso de Medicina no final de 2023, pretende fazer residência de cirurgia. “Existem muitas ações de voluntariado que contemplam a parte cirúrgica. Após terminar a residência, pretendo ser voluntário em projetos na parte cirúrgica hospitalar”.
Já Aline voltou da África com outra visão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). “Vi como é difícil ter condições adequadas de saúde sem ter acesso ao atendimento gratuito e universal, como os SUS possibilita”.
A estudante ressalta ainda que, a partir dessa experiência, aprendeu que a medicina não se restringe a diagnósticos e tratamentos, mas envolve compaixão, compreensão e solidariedade. “É essencial ter um sorriso no rosto e buscar atender o paciente da melhor forma possível, nem que seja apenas escutar e acolher. Mas também aceitar que existem situações, como as que vimos no Benim, em que não há solução e nem remédio”.
Informações: Rede Comunicação
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