O sucesso de um empreendimento imobiliário começa muito antes da fundação ser lançada. Uma grande parte dos projetos de construção no Brasil ainda ultrapassa o orçamento inicial e sofre atrasos significativos no cronograma, um desafio que tem levado o setor a repensar processos e investir em inteligência de projeto. Mais do que nunca, compatibilizar etapas, integrar equipes e planejar com precisão são atitudes que determinam o resultado final de uma obra.
Na construção civil, o projeto é o ponto de partida e, ao mesmo tempo, o alicerce que sustenta o cronograma, o orçamento e a qualidade do produto entregue. É nele que são definidos aspectos fundamentais como a viabilidade do terreno, a tipologia das edificações, o conforto térmico e acústico e as soluções técnicas que garantem eficiência e sustentabilidade. Especialistas apontam que o segredo está em dedicar mais tempo à fase de concepção, prevenindo erros e retrabalhos que podem representar até 40% do custo total de uma obra.
“Quando se investe em planejamento, ganha-se tempo e dinheiro no futuro”, afirma Edna Figueiredo, gerente de Orçamento e Projetos Executivos da Emccamp Residencial, construtora que atua há quase 50 anos no mercado imobiliário popular. “A integração entre as áreas é essencial para que o empreendimento seja aprovado dentro do prazo e entregue com qualidade, sem surpresas durante a execução”, completa. A executiva destaca ainda os avanços conquistados pela construtora com a implementação da metodologia Lean Construction, que otimizou fluxos internos e reduziu retrabalhos nos projetos.
A integração entre diferentes especialidades também é um ponto-chave para Camila Lima, diretora de Engenharia da Conecte Projetos, que defende o envolvimento de todos os setores desde a concepção. “Engenheiros, projetistas, orçamentistas e executores precisam atuar juntos desde o início. Só assim é possível prever interferências, otimizar soluções e tornar os empreendimentos mais eficientes”, pontua. Para ela, o uso de tecnologias como o BIM (Building Information Modeling) tem sido decisivo para aprimorar a compatibilização e a sustentabilidade das obras.

A engenheira ressalta que ferramentas digitais permitem simular o desempenho térmico, acústico e energético dos edifícios antes mesmo da construção, além de reunir todas as informações do projeto em um único ambiente. “Hoje conseguimos prever até questões de manutenção, garantindo conforto e economia de recursos. Isso se traduz em eficiência e sustentabilidade”, afirma.
Outro fator cada vez mais relevante é o cumprimento da Norma de Desempenho (NBR 15.575), que estabelece critérios mínimos de conforto, segurança e durabilidade nas edificações. Naiara Coimbra, gerente de Projetos Executivos da Patrimar, afirma que a norma elevou o nível de exigência técnica e impulsionou a busca por certificações como o Selo Casa Azul e o LEED. “O cliente de hoje não busca apenas conforto, ele também quer retorno. Empreendimentos certificados têm mais valor de revenda e condições de financiamento mais vantajosas”, explica.
Na prática, a sustentabilidade tornou-se um diferencial competitivo. A Emccamp, por exemplo, tem adotado soluções que conciliam eficiência energética e viabilidade econômica, como o uso de lâmpadas LED, descargas de baixo consumo e sistemas de drenagem otimizados. Já empresas de alto padrão, como a Patrimar, incorporam soluções acústicas e hidráulicas avançadas, reforçando o compromisso com o desempenho e o bem-estar dos moradores.
Para além da técnica, os especialistas reforçam o impacto humano e social do trabalho na engenharia. “É gratificante ver famílias ocupando espaços que antes eram apenas terrenos vazios. Cada empreendimento é o resultado de um esforço coletivo, e o projeto é o primeiro passo dessa transformação”, reflete Edna.
O tema foi debatido no oitavo episódio do podcast Morar em Pauta, da Emccamp, que reuniu Edna Figueiredo, Camila Lima e Naiara Coimbra. O episódio está disponível no YouTube, Spotify e principais plataformas de áudio.