
Por Lili de Carvalho, fundadora da Viert Atelier*
Em tempos de vitrines padronizadas e produção em massa, nem sempre o vestido ideal está disponível em uma arara de roupas. Muitas vezes, ele precisa ser desenhado do zero, com sensibilidade, criatividade técnica e a adaptação das tendências da moda ao gosto e ao corpo da cliente. Dessa forma, a moda sob medida vem ganhando espaço entre noivas e formandas que não querem apenas vestir um look bonito, mas algo que seja só delas.
Imagine uma noiva que sonha, desde menina, com um vestido de mangas longas, tecido leve e bordado com ramos de oliveira, símbolo de paz e ancestralidade. Ou uma formanda de moda que deseja um modelo moderno, com alfaiataria impecável e um tom de azul tingido à mão, exclusivo. Em ambos os casos, dificilmente a peça ideal será encontrada pronta. Mas, no universo do sob medida, tudo isso é possível.
A força do sob medida está na personalização real. O processo vai muito além de tirar medidas; ele começa com encontros íntimos entre cliente e estilista, momentos de verdadeira escuta em que desejos, inseguranças e referências são cuidadosamente traduzidos em croquis personalizados. A modelagem respeita as proporções de cada corpo, valoriza curvas reais, ajusta volumes e revela o que há de mais bonito em cada silhueta. Trata-se de vestir o corpo, mas também de vestir a personalidade.
Esse desejo por exclusividade e expressão pessoal não acontece por acaso. Segundo a WGSN, referência mundial em tendências de consumo, as gerações mais jovens priorizam experiências personalizadas e produtos carregados de significado emocional. No Brasil, o setor de casamentos movimentou R$ 28 bilhões em 2023, segundo a Abrafesta e o vestido representa uma fatia simbólica desse investimento — afinal, poucas escolhas são tão representativas em datas tão marcantes.



Mas o valor do sob medida vai além do tecido e da costura. Um vestido personalizado envolve diversas etapas especializadas: atendimento individualizado, design artístico, produção da peça piloto em tela, múltiplas provas e um trabalho técnico artesanal que garante o caimento perfeito. De acordo com uma análise de composição de custos, aproximadamente 25% do valor de um vestido sob medida refere-se à criação e modelagem artística; outros 15% são destinados à costura final; e cerca de 20% cobrem a matéria-prima. O restante envolve provas, consultoria, custos indiretos e reserva técnica. Ou seja, cada detalhe carrega o peso de uma produção única.
Em paralelo, cresce também a aderência ao slow fashion, movimento que propõe uma moda ética, consciente e durável. Segundo o Fashion Revolution Brasil, 48% dos brasileiros afirmam estar dispostos a pagar mais por roupas produzidas de forma ética e sustentável. O vestido sob medida é, nesse sentido, um contraponto direto à lógica acelerada do consumo descartável, pois respeita o tempo da criação, valoriza o trabalho artesanal e produz peças que resistem ao tempo não apenas fisicamente, mas também emocionalmente.
O aspecto humano, talvez o mais transformador de todos, também ganha protagonismo nesse processo. Cada prova é um ritual de conexão e cada conversa com a estilista aprofunda a construção da peça. Não se trata de uma simples transação comercial, mas de uma parceria sensível. Segundo pesquisa da Accenture, 91% dos consumidores preferem marcas que oferecem experiências personalizadas, e no sob medida isso acontece de forma natural e intuitiva.
Assim, o sob medida é mais que estética, é um posicionamento contra a pressa, o desperdício e a impessoalidade. Em um mercado de fórmulas prontas, oferece escuta, propósito e autenticidade. Vestir sob medida é expressar quem se é com significado, criando peças que eternizam momentos e identidade. Para noivas e formandas, é uma escolha consciente e humana, que valoriza durabilidade e verdade.

*Lili de Carvalho é estilista com mais de 20 anos de esperiência e fundadora da Viert Atelier.