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Revitalização da Rua Sapucaí em BH foi inspirada em modelo de Barcelona

Tempo de leitura: 4 min

em 27/07/2025

Revitalização da Rua Sapucaí em BH foi inspirada em modelo de Barcelona

Ponto cultural e gastronômico em Belo Horizonte, a rua Sapucaí, no bairro Floresta, reabriu ao público em 2025 depois de um ano de obras. A revitalização da rua custou cerca de R$ 5 milhões e redesenhou os 600 m da via entre as avenidas Assis Chateaubriand e Contorno no âmbito do programa municipal “Centro de Todo Mundo”, que visa requalificar o hipercentro de Belo Horizonte.

Mais do que uma simples obra de infraestrutura, o projeto da rua Sapucaí marca uma virada no modo como a cidade pensa seus espaços públicos. A estratégia adotada pela Prefeitura de Belo Horizonte se inspira nos “superblocos” de Barcelona, na Espanha, um modelo urbano de transformação urbana que propõe o fechamento parcial de ruas ao tráfego de veículos para criação de espaços de convivência, destinados à pedestres e ciclistas, para maior lazer e mobilidade ativa. 

 “O conceito dos superblocos transforma quarteirões em ilhas de calmaria, com prioridade para pedestres, jardins e espaços de estar. É uma cidade que se mantém vibrante a partir do encontro das pessoas”, explica Alexandre Nagazawa, arquiteto e urbanista e diretor da BLOC Arquitetura Imobiliária. Para ele, o projeto resgata ideias importantes do urbanismo, como as de Jane Jacobs e Jan Gehl, sob uma abordagem contemporânea conhecida como placemaking, termo que enfatiza o papel dos espaços urbanos como catalisadores da vida em comunidade.

Entre o passado e o futuro

A requalificação da Sapucaí não é um caso isolado em Belo Horizonte. “O fechamento das diagonais da Praça Sete, em 2003, já apontava essa direção. Também o projeto da Praça da Savassi, em 2012, caminhava sobre o mesmo conceito. O que muda agora é a maturidade técnica e política para executar isso com qualidade e o mais importante, com mais participação popular”, afirma Nagazawa, destacando que a revitalização da Sapucaí reforça o caráter já existente da rua, com foco em cultura, gastronomia e arte urbana, valorizando, através da consulta pública, uma construção conjunta com a população.

A obra incluiu a pavimentação de plano único com concreto armado, ladrilho hidráulico, pedra portuguesa e trechos gramados, drenagem nova, ciclovia bidirecional, mobiliário urbano, bancos e lixeiras, arborização e paisagismo. O mirante, valorizando a vista da área central, foi reforçado com lunetas de observação gratuitas, instaladas próximo aos números 193 e 303, como parte do projeto turístico da Belotur.

“Cidades vivas são aquelas que oferecem lugares de encontro. E a Sapucaí já tinha esse potencial. A revitalização veio para potencializar algo que já existia, ela é um catalisador urbano”, analisa o arquiteto e urbanista.

Impactos econômicos e sociais

Apesar dos benefícios, a obra não passou ilesa de críticas. Durante a execução, comerciantes locais relataram queda de até 80% no faturamento. Nagazawa explica que esse tipo de transtorno é comum em intervenções urbanas, mas precisa ser minimizado. “Quanto maior o tempo da obra, maior o impacto para quem vive e trabalha no entorno. Mas, em termos de retorno, o que se colhe depois pode ser muito mais robusto do que o que se perde temporariamente”, avalia.

Exemplos internacionais de sucesso, como o High Line de Nova York, ilustram os efeitos positivos, e também os riscos, de projetos assim. “A revitalização do High Line gerou um boom econômico e imobiliário na região, mas também trouxe gentrificação. A cidade precisa estar atenta para equilibrar esse crescimento com inclusão”, pondera o arquiteto.

Participação popular e visão integrada

Diferente de outras intervenções feitas “de cima para baixo”, o projeto da Sapucaí passou por um processo de consulta pública que envolveu cerca de 7 mil moradores, além de comerciantes e pesquisadores. Houve reuniões presenciais e um formulário online que coletou sugestões da população. 

Nagazawa ressalta que esse diálogo é essencial por se tratar de uma área simbólica da cidade. “Quando a população sente que sua opinião está sendo levada em consideração, ela se sente parte do processo. Assim há maior uso e apropriação do espaço, com menor chance de abandono ou vandalismo, e criação de um verdadeiro senso de pertencimento”, explica o diretor da BLOC. 

A revitalização da Rua Sapucaí está alinhada às diretrizes do Plano Diretor de Belo Horizonte, revisado em 2022, que incentiva o uso misto do solo e busca uma cidade mais acessível para pedestres e menos dependente do automóvel. A proposta é recuperar o espaço urbano para as pessoas, em contraste com décadas de expansão centrada nos carros.

Para Nagazawa, o desafio não é apenas físico-financeiro, mas politicamente estrutural e permanente. “A obra física é só o começo. É preciso integrar transporte público, garantir policiamento, promover eventos e assegurar manutenção constante para que o espaço continue vivo”, afirma. Também chama atenção para o potencial de replicar esse modelo em outras áreas da cidade, para além da região centro-sul, desde que acompanhadas por políticas estruturadas e continuidade administrativa.

A transformação da Sapucaí, segundo ele, representa mais do que uma obra, sendo um movimento de reconexão com a essência urbana de Belo Horizonte. “Não é uma ruptura ou uma grande inovação. É uma reconexão com a cidade que Belo Horizonte já foi um dia. Mais caminhável, verde e humana”, finaliza o arquiteto. 

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