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Série ‘Adolescência’ levanta debate sobre os caminhos sombrios da construção da masculinidade moderna

Tempo de leitura: 3 min

em 26/03/2025

Série ‘Adolescência’ levanta debate sobre os caminhos sombrios da construção da masculinidade moderna

Desde seu lançamento na Netflix, a produção britânica “Adolescência” tem suscitado discussões sobre os desafios da juventude contemporânea. Com 24,3 milhões de visualizações somente nos primeiros quatro dias de estreia, a série apresenta a história de Jamie (Owen Cooper), um adolescente de 13 anos acusado de matar uma colega de classe. Esse sucesso se dá pelo fato do drama psicológico evidenciar questões sociais extremamente atuais como a masculinidade tóxica e o impacto das redes sociais na formação da identidade dos jovens.

Só no Tiktok Brasil a hashtag ‘adolescência’ alcançou em menos de 10 dias 182,7 mil citações, o que mostra como o assunto reverberou no país. Fato que é visto como positivo pela psicanalista, filósofa e autora do livro ‘O Caminho para o Inevitável Encontro Consigo Mesmo’, Ana Matos. “A série toca em um ponto central da dinâmica social: a construção de um ideal de masculinidade que desconsidera a complexidade emocional dos meninos, em uma dinâmica que os desumaniza”, aponta. 

A profissional de saúde mental também destaca que a imposição de um modelo baseado na força e na supressão emocional, resulta em padrões de comportamento que, muitas vezes, se traduzem em violência. “Não existe uma sociedade do afeto; estamos desestruturados, sem diálogo eficaz entre escola, família e outras instituições”, analisa. 

Cultura do mais forte

Essa realidade se reflete nos números. Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que cerca de 23% dos estudantes brasileiros do ensino fundamental já sofreram bullying. O fenômeno, longe de ser um problema isolado, está diretamente ligado a padrões culturais que reforçam a agressividade como expressão da identidade masculina. “O bullying não nasce na escola. Ele é um sintoma de uma estrutura social que ensina os meninos a responderem com violência quando se sentem inseguros”, observa a psicanalista.

Outro ponto abordado na série é a alienação emocional dos personagens masculinos, que enfrentam dificuldades para expressar sentimentos e construir relações saudáveis. Para Ana Matos, essa limitação imposta desde a infância tem repercussões diretas na saúde mental dos jovens. “O sofrimento psíquico dos meninos é frequentemente ignorado ou minimizado. Eles são ensinados a silenciar suas emoções, a resolver conflitos na base da força. Essa dinâmica perpetua um ciclo de angústia e frustração que pode culminar em transtornos como ansiedade e depressão”, pontua.

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Foto – Divulgação

Poder do digital na formação da personalidade

A influência das redes sociais também se insere nesse contexto, amplificando dinâmicas de exclusão e reforçando estereótipos nocivos. A exposição digital intensifica a necessidade de validação externa, tornando a imagem pública mais importante do que o bem-estar emocional. “A internet cria um espaço onde a competitividade e a busca incessante por aprovação substituem o autoconhecimento. Isso gera uma identidade frágil, moldada por expectativas irreais”, pontua a psicanalista.

O papel da família e da escola na construção de um ambiente seguro

Diante desse panorama, ‘Adolescência’ se estabelece como uma reflexão crítica sobre os desafios da juventude. Mais do que um drama, a série expõe as falhas estruturais de um modelo social que negligencia a complexidade emocional dos meninos e perpetua comportamentos destrutivos. “É necessário repensar como educamos nossas crianças, sobretudo os meninos, para que possam desenvolver relações mais saudáveis consigo mesmos e com os outros”, conclui Matos.

Para que essa mudança ocorra, é essencial que os adolescentes se sintam em ambientes seguros para se expressarem, tanto em casa quanto na escola. “Precisamos fomentar espaços de diálogo aberto e escuta ativa, onde os meninos possam falar sobre seus sentimentos sem medo de serem julgados. Isso pode mudar completamente o desenvolvimento emocional e social dessas crianças”, finaliza a psicanalista.

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