
Setembro é um mês crucial no calendário, dedicado à conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Um período para quebrar o estigma em torno desse tema sensível e garantir que aqueles que estão se sentindo vulneráveis não estejam sozinhos. Mas é também um momento de olhar para aqueles que perdem seus entes nessa dura batalha, os chamados sobreviventes enlutados. Como lidar com esse luto e sobreviver diante da imensa dor após a perda de alguém?
Na opinião da psicóloga e idealizadora do Instituto de Psicologia Médica, Aline Helena, o caminho é longo e não existe um tempo pré-definido para curar a ferida. “O importante é conseguir transformar o luto em luta”, afirma.

Segundo a especialista, em primeiro lugar é necessário entender que o luto passa por fases. A primeira delas é a negação, a dificuldade em aceitar o que aconteceu. Depois vem o tempo do questionamento: por que isso aconteceu comigo? Por que “Deus” permitiu isso? Em seguida vem a tristeza, o sentimento de vazio. Há ainda os momentos de raiva, por achar que não fez o que era preciso, por não ter aproveitado todos os momentos ao lado daquela pessoa. “Raiva de si mesmo e do outro, por ter partido tão repentinamente, sem aviso prévio. Só depois de tudo isso é que vem a aceitação”, explica Aline.
A partir daí, de acordo com a psicóloga, é possível ir lidando com as vulnerabilidades e organizando os sentimentos. “O luto é um processo, não está direcionado a um tempo, mas a um lugar que eu vou construir a partir do que estou sentindo, a partir da ausência, e isso vai trazer a possibilidade de seguir a vida. Para onde eu vou daqui pra frente? Claro que é difícil responder, porque a gente perde um lugar de pertencimento, de desejo, que tínhamos com aquela pessoa que se foi. Mas essa perda traz a possibilidade de entendermos que a vida é um instante e que, para além de continuar, é preciso se questionar: como estou vivendo a minha própria vida?”, analisa.
Para Aline Helena, é importante aceitar cada uma dessas etapas, reconhecer a dor e ter autocompaixão, para que se possa dar vasão a todos esses sentimentos. “Luto é algo pelo qual todos nós passamos, é uma condição da existência humana. Temos que passar por ele tentando olhar para dentro de nós mesmos de uma forma diferente. Todo mundo que passa por um luto, vai mudar um ponto em si mesmo”, ressalta.
E a psicóloga completa: “Vamos olhar para esse mês de setembro com esperança. A natureza é sábia. Cada uma das estações carrega em si uma compreensão infinita das fases da própria vida, que se espelha também nos estágios da nossa existência – nascer, crescer, amadurecer e morrer. Nem sempre aceitamos e compreendemos as perdas e os cortes que acontecem no decorrer da nossa trajetória pessoal. Mas é preciso enxergar a si e ao mundo com os olhos do coração, lembrando todos os dias de como a vida é preciosa”, finaliza a psicóloga.
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