G-WK3E5P3TNV

Anvisa aprova Mounjaro para tratamento de obesidade no Brasil; endocrinologista analisa impactos e desafios

Tempo de leitura: 5 min

em 09/06/2025

Anvisa aprova Mounjaro para tratamento de obesidade no Brasil; endocrinologista analisa impactos e desafios

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou hoje o medicamento Mounjaro para o tratamento de sobrepeso e obesidade no Brasil, ampliando as opções terapêuticas para milhões de brasileiros que lutam contra o excesso de peso. A decisão, publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (9), representa um marco significativo no combate à obesidade no país, uma vez que estudos clínicos demonstraram que o medicamento pode promover perdas de peso de até 22,5% quando associado à dieta e exercícios.

O Mounjaro, fabricado pela farmacêutica americana Eli Lilly, já era aprovado no Brasil desde 2023 para o tratamento de diabetes tipo 2. Agora, com a nova indicação, o medicamento poderá ser prescrito para adultos com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30, caracterizando obesidade, ou igual ou superior a 27, no caso de sobrepeso acompanhado de pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso, como hipertensão, colesterol alto ou pré-diabetes.

Resultados em estudos clínicos

A aprovação da Anvisa baseou-se nos resultados do programa SURMOUNT, um conjunto abrangente de sete estudos clínicos de fase 3 que recrutou mais de 20 mil pacientes em todo o mundo. Os dados revelaram uma eficácia notável do medicamento no controle do peso corporal.

Na dose mais alta do tratamento (15 mg), os participantes perderam em média 22,5% do peso corporal, enquanto na dose mais baixa (5 mg), a perda média foi de 16% – números significativamente superiores aos 0,3% observados no grupo que recebeu placebo. Ainda mais impressionante foi o fato de que cerca de 40% dos participantes que utilizaram Mounjaro perderam mais de 40% do peso corporal total, comparado a apenas 0,3% do grupo placebo.

Além da perda de peso, os participantes observaram melhorias em outros parâmetros de saúde, incluindo reduções no colesterol, na pressão arterial e na medida da cintura – benefícios considerados desfechos secundários do tratamento.

De acordo com Alessandra Rascovski, endocrinologista e diretora clínica da Atma Soma, além de fundadora do Ambulatório Clínico de Obesidade Severa do Hospital das Clínicas da FMUSP, a aprovação do Mounjaro vem de encontro à enorme expectativa em relação aos efeitos da tirzepatida para o controle da glicemia e perda de peso. “Os resultados de pesquisas científicas e do uso do remédio no dia a dia mostraram que ele tem uma alta eficácia para controlar a glicemia e proporcionar perda de peso. No consultório, tenho recebido muitos questionamentos de pacientes a respeito do Mounjaro para o emagrecimento”, ressalta.

Alessandra ressalta que uma das grandes preocupações é que o Mounjaro seja visto como uma fórmula milagrosa de emagrecimento, cuja mensagem é impulsionada pelas redes sociais. “É importante que o uso do medicamento, assim como qualquer outra caneta de tratamento para diabetes indicada como opção off label para a perda de peso, seja acompanhado por orientação médica, pois o paciente pode não alcançar o efeito esperado, enfrentar percalços em sua jornada, incluindo efeitos colaterais severos, e, ao final, não ter um resultado satisfatório, com risco de reganho de peso após a interrupção do uso”.

Duplo agonista

De acordo com a diretora clínica da Atma Soma, a tirzepatida é a primeira medicação da história que se encaixa na classe de duplos agonistas. “Enquanto a semaglutida imita a ação do hormônio GLP-1 (peptídeo-1 semelhante ao glucagon), para equilibrar as taxas de açúcar no sangue e regular o apetite, a tirzepatida imita o GLP-1 e o GIP (peptídeo insulinotrópico dependente de glicose), que também controla a glicemia e induz a sensação de saciedade”, ressalta.

O novo remédio se liga aos receptores de ambos os hormônios, envolvendo duas etapas. A primeira engloba a liberação de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas responsável por retirar da circulação sanguínea o açúcar originado dos alimentos e colocá-lo dentro das células, quando será usado como fonte de energia. “Pacientes portadores de diabetes têm dificuldade de produzir a insulina ou ter sua ação efetiva no organismo. Nesse sentido, a glicose fica acumulada no sangue e ocasiona vários problemas de saúde, de ordem cardiorrespiratória, renal ou ocular”, explica a endocrinologista.

Já a segunda etapa de ação do Mounjaro aborda o controle de apetite. “Os receptores de GIP e GLP-1 também estão presentes em várias regiões do cérebro, relacionadas ao controle do apetite, da saciedade e do gasto energético. Com isso, o medicamento ajuda a regular os centros de recompensa que nos motiva a buscar o que dá prazer e assim melhora o comportamento alimentar, o que pode levar à perda de peso”, ressalta Alessandra.

Doenças crônicas em evolução

A aprovação do Mounjaro para obesidade no mercado brasileiro é mais um capítulo importante para promover novos horizontes de combate ao avanço da diabetes e obesidade. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o país possui cerca de 20 milhões de pessoas portadoras da doença, o que corresponde a mais de 10% da população, e com projeções de crescimento de novos casos para os próximos anos.

Em relação à obesidade, o quadro é semelhante. Conforme dados da pesquisa Vigitel 2023, 24,3% dos adultos no Brasil são obesos – 1 a cada 4 no país. Até 2030, esse porcentual pode chegar a 30%, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2022.

Acessibilidade: o grande desafio

Além da aprovação do Mounjaro, o mercado vem se empenhando em novas opções de medicamentos para incrementar o leque de opções disponíveis para os brasileiros. Por exemplo, a queda da patente da semaglutida está prevista para ocorrer em 2026 e existem laboratórios já trabalhando em versões genéricas do Ozempic. Há também anúncios sobre a produção de opções a base de liraglutida, princípio ativo do Saxenda, com foco em obesidade e diabetes.

Alessandra Rascovski aponta que ainda há um longo caminho de expansão do uso desses fármacos no Brasil. “O valor elevado ainda é um fator dificultador de democratização do acesso desses medicamentos para a população em geral, além deles não estarem disponíveis na rede pública de saúde. É preciso apostar em políticas públicas, com a adoção de tratamentos mais modernos no SUS, para que a maioria dos cidadãos tenha condições de utilizá-los tanto para o controle da diabetes quanto para a perda de peso”.

Outro aspecto mencionado por Alessandra é a importância do uso desses medicamentos para pacientes que não conseguem emagrecer somente com controle de alimentação e mudança de estilo de vida. “Vale lembrar que a obesidade, assim como a diabetes, é uma doença crônica recidivante, que muitas vezes não pode ser tratada somente com mudança de hábitos. Ainda precisamos evoluir muito nesse olhar, tirando a culpa do colo do paciente e entendendo que há outros fatores envolvidos, sendo a medicação uma importante aliada para ajudar na perda de peso”, conclui.

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: Este site faz uso de cookies que podem conter informações de rastreamento sobre os visitantes.