
Ondas de calor, variações de humor e noites mal dormidas são alguns sintomas conhecidos por quem atravessa a menopausa, mas reduzi-la a isso é negligenciar um capítulo fundamental da saúde da mulher. Enquanto parte da medicina hesita em tratar o tema com a profundidade necessária, milhões de mulheres seguem desinformadas, desacreditadas e, pior, desamparadas. É o que revela a ginecologista e pesquisadora especialista no assunto Fabiane Berta, da Unifesp, que lista ainda 10 mitos que pedem urgência na revogação:

1 – São apenas ondas de calor. Cerca de 80% das mulheres enfrentam o sintoma, mas a menopausa provoca outras quase 70 interferências na saúde da mulher. “Confusão mental, insônia, secura vaginal e dores articulares também são manifestações comuns que revelam a influência do estrogênio no corpo todo”, explica a médica.
2 – É tudo culpa dos hormônios. Na contramão do apagamento histórico da saúde feminina, cresce uma tendência oposta e igualmente equivocada ao atribuir todos os desconfortos à menopausa. “Fadiga, por exemplo, pode indicar deficiência de ferro, alterações da tireoide ou carência de vitaminas. A pressa e o rótulo pronto podem mascarar doenças”.
3 – Terapia hormonal é arriscada. Desde 2002, quando um estudo associou o uso de hormônios a riscos cardiovasculares e câncer de mama, muitas mulheres abandonaram o tratamento. Mas existem revisões importantes que devem ser consideradas, principalmente para pacientes entre 40 e 50 anos com sintomas intensos. “Os benefícios são significativos e os riscos, baixos. Tanto que o FDA, que é a Anvisa americana, está reavaliando o uso da TH, já que estudos mais recentes não corroboram associação ao câncer de mama”, diz Berta.
4 – Hormônios são a única solução. Quando a reposição não é indicada, existem alternativas eficazes e validadas tanto com medicamentos quanto com terapias cognitivas e até exercícios respiratórios, que oferecem alívio. Para a secura vaginal, ácido hialurônico também é opção.
5 – Natural é sempre melhor. Suplementos à base de plantas e hormônios se popularizaram como “seguros”, mas não há respaldo científico e pouca regulação. Marketing e promessas sem bula podem colocar a saúde em risco.
6 – É só ter paciência que passa. O discurso da resistência pode custar caro e aumentar o risco cardíaco, declínio cognitivo e perda óssea. “Negar tratamento é abrir espaço para complicações que poderiam ser evitadas”, enfatiza a especialista.
7 – Os sintomas são passageiros. Para muitas mulheres, podem durar mais de 10 anos e começar antes dos 40, mas ainda assim, muitas queixas são desconsideradas por médicos que se baseiam apenas na idade.
8 – O desejo sexual desaparece para sempre. Queda de libido e desconforto têm tratamento, lubrificantes e estrogênio local ajudam a reconstruir a conexão com o prazer. O silêncio agrava.
9 – Perimenopausa é sinônimo de infertilidade. Mesmo com ciclos irregulares, há risco de gravidez até 12 meses completos sem menstruação.
10 – A menopausa é o fim de tudo. Para muitas, é o início de um período marcado por autonomia e liberdade. Menos preocupadas com a opinião alheia e mais conectadas com o próprio corpo, elas vivem esse momento como uma reconciliação. “Falar sobre menopausa com seriedade, informação e escuta ativa é urgente, todos os dias. Porque o que as mulheres não sabem, pode fazer toda a diferença no modo como atravessam essa etapa, que é inevitável e cheia de possibilidades”, finaliza Fabiane Berta.
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