A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) emitiu um alerta epidemiológico no último mês sobre o cenário da febre maculosa no estado. De acordo com o boletim mais recente, Minas Gerais já registrou seis mortes pela doença em 2025, superando o total de quatro óbitos ocorridos durante todo o ano de 2024.
A febre maculosa, causada por uma bactéria do gênero Rickettsia e transmitida pela picada do carrapato-estrela, é uma doença grave e de evolução rápida. Até o momento, foram confirmados mais de 35 casos em 20 municípios mineiros. Os óbitos deste ano estão concentrados em Caeté, Matozinhos, Caratinga e Antônio Dias, além de nove casos que seguem sob investigação.
A infectologista e professora da Afya São João del Rei, Dra. Janaína Teixeira, explica que a transmissão ocorre quando o carrapato contaminado permanece aderido à pele por algum tempo durante o repasto sanguíneo.”As situações mais comuns de infecção envolvem atividades em áreas naturais, como matas ciliares, pastagens e margens de rios, onde há presença de animais hospedeiros do carrapato, especialmente capivaras e cavalos. Esses locais costumam ser frequentados em atividades de lazer ou ecoturismo, como trilhas, camping, arborismo e outros esportes ao ar livre. Nessas situações, o risco de contato com carrapatos infectados é maior”, explica.
A especialista da Afya ressalta que a febre maculosa é considerada uma doença endêmica em Minas Gerais, ou seja, está presente de forma contínua no estado, com registro de casos todos os anos. “Apesar de o número absoluto de casos não ser muito elevado, a febre maculosa apresenta alta letalidade, com taxas que podem variar entre 30% e 50%, o que reforça sua gravidade e importância para a saúde pública. A vigilância constante e o diagnóstico precoce são fundamentais para reduzir o número de óbitos”, afirma.
Sintomas, diagnóstico e tratamento
Segundo a infectologista, os sintomas da febre maculosa surgem de forma súbita e incluem febre alta, dor de cabeça intensa, dores no corpo e nas articulações, náuseas, vômitos e cansaço extremo. Entre o terceiro e o quinto dia da doença, podem aparecer manchas avermelhadas na pele, que geralmente começam nas extremidades e se espalham pelo corpo, embora nem todos os pacientes apresentem essas lesões. A especialista alerta que se trata de uma infecção potencialmente grave, que pode evoluir rapidamente e levar ao óbito se não for tratada precocemente.
Para o diagnóstico, são realizados exames de sangue específicos, como a sorologia para Rickettsia rickettsii, que identifica os anticorpos produzidos pelo organismo. A confirmação definitiva ocorre com a coleta de uma segunda amostra, cerca de duas semanas após a primeira, para verificar o aumento dos títulos de anticorpos. Como esse processo é demorado, o resultado não é imediato, o que reforça a importância de não aguardar a confirmação laboratorial para iniciar o tratamento. “Diante de uma suspeita clínica e epidemiológica, o médico deve iniciar imediatamente o uso de doxiciclina, pois o tratamento precoce é essencial para evitar complicações graves e reduzir o risco de morte”.
A infectologista reforça que o tratamento é simples e acessível, já que o antibiótico indicado, a doxiciclina, é amplamente disponível e deve ser utilizado por cerca de sete dias. Apesar disso, ela adverte que a doença pode evoluir com complicações graves, como insuficiência renal, alterações neurológicas, comprometimento pulmonar e distúrbios hemorrágicos. “O uso do antibiótico é simples, mas o manejo clínico pode se tornar complexo quando surgem essas complicações. Por isso, o atendimento rápido e o acompanhamento médico adequado são fundamentais, especialmente em regiões de risco, como diversas áreas de Minas Gerais”, conclui a especialista da Afya São João Del Rei.
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