Um crime que chocou o Brasil no fim da década de 1970 volta aos holofotes com o lançamento da série Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, que estreia nesta quinta-feira (13/11) na HBO Max. Dirigida por Andrucha Waddington e estrelada por Marjorie Estiano, a produção revisita a trajetória da socialite cuja morte, pelas mãos do então namorado Doca Street, se transformou em símbolo da luta contra a violência de gênero no país.
A série reconstrói os passos de Ângela Diniz, dando rosto, voz e alma a uma mulher que se recusou a seguir as regras de uma época que não perdoava mulheres livres e independentes. Quase 50 anos depois, o caso Doca Street — interpretado por Emílio Dantas — segue atual ao expor as estruturas machistas e desiguais que ainda permeiam a sociedade brasileira.
Em coletiva de imprensa acompanhada pelo Portal BH em Pauta, o diretor Andrucha Waddington revelou que o projeto, gestado há 49 anos, enfrentou uma longa jornada até sair do papel — marcada por disputas de direitos autorais, mudanças de abordagem e o desafio de retratar uma personagem cuja história é, ao mesmo tempo, pessoal e coletiva.
“Ângela representa um ponto de virada. Ela não é apenas uma vítima, mas uma mulher que ousou viver de forma livre num tempo em que isso era inaceitável”, afirmou Waddington.
Marjorie Estiano, que dá vida à protagonista, destacou que o processo de construção da personagem trouxe reflexões profundas sobre o papel da mulher na sociedade e sobre as marcas deixadas por um sistema patriarcal ainda vigente.
“Foram muitas coisas que viver essa personagem me trouxe e continua me trazendo: consciência histórica sobre a luta pelo direito das mulheres, sobre o impacto e a força de uma formação de gênero numa sociedade machista. Quando você estuda sobre isso, começa a enxergar melhor — a sociedade, a sua própria vida, as suas relações”, declarou a atriz.
Durante a coletiva, Emílio Dantas foi direto ao descrever o personagem: “Um grande idiota, canalha, preconceituoso”, afirmou o ator, antes de refletir sobre como esse tipo de figura ainda encontra espaço hoje.
Dantas também fez uma provocação sobre como o caso se manifestaria nos dias atuais: “Muitas vezes a gente vê algo que aconteceu no passado e percebe que continua igual. Talvez meu personagem hoje fosse famoso, tivesse uma equipe gigante de marketing e estaria no Congresso. E a Ângela, cancelada na internet. Nos dias de hoje, o assassino dela seria influenciador.”

Para o ator, o desconforto é parte essencial da obra: “Quero que as pessoas terminem a história com o mesmo sentimento que eu tive ao gravar: de raiva — do passado e do presente. De perceber que ainda cometemos os mesmos julgamentos de antes.”
Inspirada no premiado podcast Praia dos Ossos, da Rádio Novelo, a série narra a trajetória de Ângela Diniz desde a juventude até o trágico desfecho — quando foi assassinada com quatro tiros à queima-roupa por Doca Street, em 1976.
O elenco reúne nomes de peso como Antônio Fagundes (no papel do advogado e ex-ministro do STF Evandro Lins e Silva), Thiago Lacerda (Ibrahim Sued), Camila Márdila (Lulu Prado) e Yara de Novaes (Maria Diniz).
Com uma abordagem sensível e necessária, Ângela Diniz: Assassinada e Condenada propõe não apenas revisitar um caso emblemático, mas também refletir sobre o quanto o Brasil avançou — e o quanto ainda precisa avançar — na luta por justiça e igualdade de gênero.