As festas de fim de ano costumam ser associadas a momentos de alegria, união e celebração ao lado de familiares e amigos. No entanto, para quem vive o luto pela perda de um ente querido, e também para muitas outras pessoas, o Natal e o Ano Novo podem intensificar sentimentos de saudade, tristeza e solidão, tornando esse período especialmente desafiador.
A sobrecarga emocional típica das festas de fim de ano é uma realidade para muitas pessoas. Um estudo da IKEA, mostra que quase metade dos entrevistados (49,3%) relatou sentir estresse durante esse período, e 24,6% afirmaram vivenciar problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Esses números ajudam a compreender por que emoções como tristeza, ansiedade e exaustão emocional tendem a se manifestar com mais intensidade nessa época, especialmente entre quem enfrenta o luto.
Mais do que relembrar a morte, esse momento convida à reflexão sobre a vida, os vínculos construídos e o significado da ausência. Em meio às celebrações, pequenos gestos podem ajudar a ressignificar a dor e manter viva a memória de quem partiu, como acender uma vela, colocar uma foto à mesa, mencionar o nome da pessoa durante a ceia, preparar um prato de que ela gostava ou compartilhar lembranças e histórias marcantes.
Segundo especialistas da área de Psicologia, o primeiro passo para lidar com o luto é reconhecer os próprios sentimentos e permitir-se viver esse processo com autenticidade e acolhimento. O luto é uma experiência única, vivida de formas diferentes por cada pessoa e em tempos distintos. Não há um prazo definido para sentir ou uma maneira certa de lidar com a dor. Em datas simbólicas, como as festas de fim de ano, sentimentos relacionados a perdas antigas podem voltar à tona e isso é absolutamente natural.
A psicóloga Priscilla Rodrigues, professora da Universidade São Judas, explica que, nesse período, a ausência da pessoa amada tende a se tornar ainda mais evidente. “Está tudo bem sentir saudade, desejar que a pessoa ainda estivesse aqui e permitir que risadas e lágrimas coexistam. É no reconhecimento da falta e da saudade que conseguimos seguir em frente com a nossa vida, mesmo sem as pessoas mais significativas fisicamente presentes”, afirma.
Manter tradições e rituais pode ter um valor psicológico profundo para quem está em luto, pois ajuda a dar continuidade aos vínculos afetivos mesmo diante da ausência física. Atos como preparar a comida preferida de quem partiu, repetir um passeio que faziam juntos, visitar um local significativo ou observar as decorações dessa época funcionam como formas simbólicas de presença, oferecendo conforto emocional e sensação de pertencimento. Esses rituais ajudam o cérebro a organizar a experiência da perda, validam a saudade e reduzem o sentimento de isolamento, comum nas festas de fim de ano.
“Se havia uma tradição, como um almoço especial, um passeio, uma visita a um parque ou até observar as decorações dessa época juntos, mantê-la pode trazer conforto. As lembranças e a certeza de que houve momentos afetivos verdadeiros fazem diferença para lidar com a saudade”, destaca Priscilla.
Durante o período de luto, é fundamental respeitar os limites do corpo e da mente. A tristeza é esperada, mas o sofrimento merece atenção quando começa a aparecer em situações do dia a dia, como dificuldade constante para dormir ou excesso de sono, irritabilidade frequente, cansaço extremo, falta de concentração, desânimo para atividades antes prazerosas, afastamento de amigos e familiares ou sensação persistente de vazio. Quando esses sinais se prolongam e passam a interferir na rotina, no trabalho ou nas relações, pode ser um indicativo de que é importante buscar ajuda profissional.
Para Priscilla, não existe uma fórmula pronta para aliviar a dor da perda, mas é possível encontrar formas mais gentis de atravessar esse processo. “Não há uma receita para preencher o vazio que fica quando perdemos alguém que amamos, mas podemos celebrar a vida e as lembranças construídas. As risadas, os momentos bons e até os difíceis fazem parte da história que nos levou a amar essa pessoa. Assim, temos a certeza de que, mesmo sem a presença física, esse amor continua existindo — apenas de outra forma”, completa.
Dicas para lidar com o luto
As especialistas reforçam que acolhimento, escuta e respeito ao próprio tempo são fundamentais nesse processo. Confira algumas recomendações:
- Permita-se sentir: negar a dor não faz com que ela desapareça; o luto precisa ser vivido.
- Respeite o seu tempo: cada pessoa tem um ritmo diferente para elaborar a perda.
- Compartilhe o que sente: conversar com amigos, familiares ou grupos de apoio ajuda a ressignificar a dor.
- Mantenha rituais e lembranças: celebrar a vida e a história construída com quem partiu pode trazer conforto.
- Cuide do corpo e da mente: atenção ao sono, alimentação e momentos de descanso.
- Procure ajuda profissional: psicólogos e terapeutas podem auxiliar na reconstrução emocional.
“Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem. É uma forma de cuidado consigo mesmo e de transformar a dor em aprendizado”, reforça a especialista.



