Nos últimos anos, as chamadas “canetas emagrecedoras” se tornaram uma das principais estratégias no tratamento da obesidade e do sobrepeso. Mas, apesar de sua eficácia comprovada, muitos pacientes relatam o aumento do desejo por doces durante o uso dessas substâncias. O fenômeno, conhecido como efeito compensatório, pode comprometer os resultados e até neutralizar parte dos benefícios obtidos com o tratamento.
O Dr. Rafael Fantin, médico endocrinologista e metabologista, com especialização em Medicina do Exercício e do Esporte e em Prática Ortomolecular e Nutrigenômica, explica que compreender o funcionamento desses medicamentos e o comportamento do organismo é essencial para garantir resultados sustentáveis.
“Hoje temos diferentes tipos de canetas voltadas para o emagrecimento. As mais antigas são os análogos do GLP-1, como a semaglutida, e as mais recentes, como a tirzepatida, combinam dois hormônios, GLP-1 e GIP, atuando de forma mais ampla sobre o metabolismo. Essas substâncias agem no centro cerebral de controle do peso e da fome, reduzindo o apetite, a compulsão alimentar e o prazer associado à comida, além de prolongar a saciedade ao retardar o esvaziamento gástrico”, explica.
A tirzepatida, segundo o especialista, tem se mostrado ainda mais eficiente porque estimula a quebra de gordura e aumenta o gasto metabólico após as refeições. No entanto, o Dr. Rafael alerta que a medicação, isoladamente, não garante o sucesso do tratamento. “Se o paciente não faz as refeições corretas e nos momentos certos, o corpo entende que está recebendo menos energia e passa a buscar alimentos mais calóricos, como doces e carboidratos simples. Esse é o chamado efeito compensatório, que pode surgir mesmo com o uso adequado da medicação”, afirma.

O consumo excessivo de açúcar durante o uso das canetas pode se tornar um verdadeiro inimigo do tratamento. “Essas medicações atuam em mecanismos muito precisos de controle do apetite e do metabolismo, e dependem de uma base nutricional equilibrada para funcionar bem.Quando a pessoa mantém uma alimentação inadequada, pode até perder peso, mas de forma errada, perdendo mais massa magra do que gordura. Além disso, o excesso de glicose gera picos de insulina, o que aumenta a fome e o desejo de comer, criando um antagonismo direto ao efeito da medicação”, reforça o endocrinologista.
O papel do endocrinologista: preparar o terreno biológico
De acordo com o Dr. Rafael, antes de prescrever qualquer medicamento, o endocrinologista precisa fazer uma avaliação ampla, física, metabólica e emocional. “Existe o que chamamos de fome compensatória, que não vem da necessidade de energia, mas da busca por conforto emocional em momentos de ansiedade, estresse ou tristeza. Nesses casos, o medicamento sozinho não resolve. É preciso complementar o tratamento com suporte emocional, ajuste de neurotransmissores e correção de deficiências nutricionais”, pontua.
O médico destaca ainda que um corpo desequilibrado biologicamente tende a não responder bem à medicação. “Se há disfunções hormonais, inflamatórias ou nutricionais, o resultado é frustrante. Corrigindo essas deficiências, o corpo deixa de lutar contra o processo e passa a cooperar com o tratamento. O paciente naturalmente organiza melhor sua alimentação e perde peso de forma mais eficiente”, ressalta.
Estratégias para gerenciar a compulsão
Para garantir o sucesso e a sustentabilidade do emagrecimento, o Dr. Rafael Fantin e a equipe multidisciplinar, incluindo o nutricionista, adotam estratégias que vão além do controle calórico:
Correção nutricional: Identificar e corrigir deficiências de nutrientes-chave (como triptofano, magnésio, cromo e vitaminas do complexo B) que regulam neurotransmissores como serotonina e dopamina, reduzindo o impulso por recompensa alimentar.
Ajuste padrão alimentar: Manter horários de refeição regulares, incluir proteínas e fibras em todas as refeições e evitar longos períodos de jejum.
Abordagem holística: O tratamento considera que o ganho de peso é multifatorial, englobando alterações na flora intestinal, qualidade do sono, estresse e questões emocionais. A medicação é uma ferramenta poderosa, mas o resultado só é satisfatório e duradouro quando acompanhado de uma mudança completa de estilo de vida. Sem isso, o efeito tende a ser passageiro.
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