
A cada ano, entre junho e setembro, Belo Horizonte se transforma num espetáculo de cores, graças à florada dos ipês que embelezam ruas, avenidas e praças. Com quase 29 mil exemplares espalhados pela cidade, essas árvores não apenas tornam a paisagem mais bonita, mas também indicam os ciclos climáticos da capital mineira. Esse ano, excepcionalmente, já é possível ver as árvores floridas em regiões como o bairro Buritis, na por exemplo, na região oeste da capital.
O florescimento antecipado dos ipês-roxos em Belo Horizonte, observado já no final de abril, é um fenômeno que tem se tornado mais frequente. Segundo especialistas, esse adiantamento está diretamente relacionado às mudanças climáticas, especialmente ao aumento das temperaturas médias. “A compreensão da fenologia das árvores, ou seja, do seu ciclo de vida – composto pela fase vegetativa (crescimento e perda de folhas) e pela fase reprodutiva (floração e frutificação) – é importante para a seleção de espécies mais adequadas aos vários ambientes da cidade e para compreender o seu comportamento com as variações climáticas”, destaca a bióloga e docente do UniBH, Fernanda Raggi Grossi.
Ela explica que, em condições regulares de temperatura, as plantas caducifólias perdem suas folhas na estação seca para restringir a perda de água por transpiração e prevenir a desidratação, além de investir a energia na produção de flores. “Na região central das grandes cidades, por exemplo, há a formação de ilhas de calor em função das mudanças climáticas extremas. As altas temperaturas acumuladas provocam alterações na sincronia destas etapas do ciclo de vida, levando à as respostas fisiológicas alteradas das árvores como antecipação, atraso ou floração por um tempo mais prolongado. É o retrato da reação (e confusão) das plantas ao ambiente mais estressante“, conta.
A sequência de floração dos ipês segue uma ordem marcada pelo clima: os ipês-roxos florescem primeiro, seguidos pelos amarelos e brancos, geralmente em agosto, e finalmente os rosas, que anunciam a chegada da primavera. “Essa cadência é determinada pela interação entre temperatura, luminosidade e umidade do solo. A maioria dos ipês precisa de um período de estresse hídrico para florescer com intensidade“,

Entre as espécies mais comuns na cidade estão:
- Ipê-rosa (Handroanthus heptaphyllus), com cerca de 9.768 árvores — floração entre julho e agosto;
- Ipê-tabaco (Handroanthus impetiginosus), com 6.054 unidades — flores rosadas mais escuras, também no inverno;
- Ipê-amarelo (Handroanthus serratifolius), com 4.034 exemplares — floresce entre agosto e setembro;
- Ipê-branco (Handroanthus roseo-albus), com 2.493 árvores — sua florada breve ocorre por poucos dias no início de setembro;
- Ipê-verde (Cybistax antisyphilitica), raríssimo na cidade, com apenas 24 registros — floração discreta.
Segundo a especialista, a árvore deixa de produzir folhas nos meses mais secos para concentrar energia na reprodução. “Ao perderem as folhas, os ipês maximizam a exposição das flores aos polinizadores. É uma adaptação estratégica que aumenta as chances de fecundação e, posteriormente, a dispersão das sementes com a chegada das chuvas“, afirma Fernanda.
Além de beleza, os ipês têm função ecológica relevante. “Eles são importantes para abelhas nativas, aves e outros polinizadores urbanos. Também ajudam a regular o microclima e absorver poluentes“, reforça a bióloga. A presença dessas árvores, portanto, une estética e ecologia, conectando o cidadão com os ciclos naturais do cerrado e da Mata Atlântica presentes na capital.
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