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Luta contra a obesidade deve considerar equilíbrio metabólico e saúde mental da população

Tempo de leitura: 4 min

em 04/11/2025

Luta contra a obesidade deve considerar equilíbrio metabólico e saúde mental da população

Se antes o emagrecimento era associado apenas a dietas restritivas e à força de vontade, hoje a medicina reconhece que perder peso – e manter os resultados – exige conhecimento científico e um olhar individualizado para cada corpo. Nos últimos 20 anos, o tratamento da obesidade e do sobrepeso evoluiu tanto quanto a própria ciência médica.

A nutróloga e psiquiatra Dra. Angela Vianello, fundadora da Clínica Less, que há 20 anos realiza atendimento ao emagrecimento de alta performance, em Belo Horizonte, alerta que, para enfrentar a obesidade, é preciso compreender o funcionamento do corpo e o papel das emoções, dos hábitos e da história de cada indivíduo.

O termo “alta performance”, no contexto do tratamento da obesidade, não está relacionado apenas à rapidez dos resultados, mas à qualidade do emagrecimento – um processo que considera equilíbrio metabólico, saúde hormonal, preservação da massa magra, bem-estar mental e sustentabilidade ao longo do tempo.

De acordo com a Dra. Angela, hoje a medicina entende que o tratamento deve ser feito com foco nas causas que levaram a pessoa a chegar àquele quadro. “Fome, compulsão, sobrepeso e obesidade são sintomas. Mas é importante identificar os fatores que deram origem ao problema”, afirma. “A obesidade é uma doença crônica, e isso significa que, se o tratamento for interrompido, é quase certa a ocorrência de recidiva”.

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Dra. Angela Vianello – Foto Alexandre Coutinho

Obesidade e saúde mental

Pesquisas mostram que a obesidade aumenta em até 55% o risco de desenvolver depressão, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em contrapartida, pessoas com depressão têm 58% mais chance de desenvolver obesidade. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que uma em cada dez pessoas adultas apresenta sintomas de depressão, reforçando a importância de considerar corpo e mente como dimensões inseparáveis no tratamento.

Além do impacto físico, há o peso emocional e social: o estigma da obesidade contribui para isolamento, queda na autoestima e exclusão social, criando um ciclo que agrava ainda mais o quadro psicológico e metabólico.

“Muitos pacientes chegam esgotados emocionalmente. A ansiedade e a frustração com tentativas anteriores de emagrecimento acabam interferindo diretamente no metabolismo e na adesão ao tratamento”, comenta Dra. Angela. “Questões como autoimagem, estresse e relação com a comida influenciam hormônios como cortisol e insulina, diretamente ligados ao apetite, ao acúmulo de gordura e ao desequilíbrio metabólico”.

Segundo ela, a neuroinflamação causada pelo acúmulo de gordura, principalmente a gordura visceral, causa desequilíbrios na ação dos neurotransmissores provocando mais compulsividade, mais fome e maior dificuldade em perceber a saciedade. Dessa forma, quanto maior o grau de obesidade, mais esse quadro cerebral se agrava, tornando o emagrecimento muito desafiador.

As medicações agonistas do GLP-1, conhecidos popularmente como canetas emagrecedoras, podem ser um aliado importante do paciente, desde que com acompanhamento médico, porque ajudam a controlar o apetite e a resistência insulínica.

“Essas medicações trouxeram uma nova perspectiva, mas é preciso ter clareza: elas não substituem o acompanhamento médico, nem os hábitos saudáveis. São ferramentas terapêuticas, e não soluções mágicas”, destaca Dra Angela. “O verdadeiro avanço da medicina está em oferecer tratamentos eficazes que respeitem a individualidade de cada um. O emagrecimento de alta performance é isso: ciência aplicada ao bem-estar.”

Olhar integrativo

Com uma carreira marcada pela atualização constante e pela busca de resultados sustentáveis, a médica defende a integração de nutrologia, equilíbrio hormonal, suplementação individualizada, saúde mental e práticas comportamentais. Cada plano deve ser desenhado de acordo com o perfil metabólico e emocional do paciente, respeitando a sua jornada.

 “Tratar a obesidade é tratar a pessoa em sua totalidade. É entender que cada paciente tem uma história, um ritmo, uma bioquímica e até uma maneira diferente de reagir aos tratamentos”, completa. Segundo ela, o tratamento deve ser multidimensional, incluindo:

  • Avaliações bioquímicas e hormonais completas, para entender as causas individuais do ganho de peso;
  • Preservação de massa magra, fundamental para manter o metabolismo ativo e evitar o efeito sanfona;
  • Ajustes nutricionais personalizados, que priorizem qualidade e densidade nutricional, e não apenas restrição calórica;
  • Apoio emocional, com acompanhamento das mudanças de hábitos e da autoimagem;
  • Educação em saúde, para promover autonomia e consciência corporal.

“Nessa jornada, é importante o paciente entender que não está sozinho. Nesta abordagem integrativa dentro do tratamento, ele e o médico são parceiros e, lado a lado, têm mais chances de alcançar um bom resultado”, afirma.

Um problema coletivo

Nos últimos anos, os números falam por si: mais da metade da população brasileira adulta (56%) está acima do peso, e cerca de um em cada quatro adultos vive com obesidade. A prevalência de obesidade entre adultos apresentou um aumento de quase 50% em pouco mais de uma década, especialmente entre pessoas de 45 a 54 anos.

Esses números estão diretamente relacionados ao crescimento de doenças crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão, AVC, distúrbios cardiovasculares e vários tipos de câncer (mama, próstata, colorretal, de endométrio, esôfago, vesícula biliar, fígado, rim, ovário, pâncreas, tireoide e estômago, além de meningioma e mieloma múltiplo). Segundo a Agência Brasil, mais de 60 mil mortes prematuras por ano no país são atribuídas a complicações associadas ao excesso de peso.

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