A Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena, reconhecida por seu papel na valorização das artes cênicas, realizará em novembro uma programação especial dedicada à celebração da cultura afro-brasileira. Em parceria com o IPHAN – Tiradentes e apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a iniciativa integra o Mês da Consciência Negra com uma série de ações que buscam resgatar tradições, discutir resistências e celebrar a identidade negra no contexto histórico e cultural da cidade de Tiradentes.
A cidade, com suas marcas do período colonial e do sistema escravocrata, será palco de atividades que entrelaçam arte, memória e resistência, reafirmando o papel das manifestações afro-brasileiras como parte essencial da identidade local. A programação inclui apresentações de congados, roda de capoeira, exposição fotográfica, espetáculos de dança e teatro, além de rodas de conversa com pesquisadores e representantes de comunidades quilombolas e de movimentos culturais. A proposta é oferecer ao público uma imersão na história e nas manifestações culturais negras, incentivando a troca de saberes e fortalecendo a identidade afro-brasileira.
Teremos no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, uma recepção para os Congadeiros da região das Vertentes com café da manhã na sede do IPHAN, seguido de um cortejo com os grupos: Congado de São Miguel e Santa Efigênia de Santa Cruz de Minas, Congado Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Coronel Xavier Chaves, Guarda do Congo de Santo Antônio do Igarapé e o Congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia de Tiradentes. A Missa Inculturada também será retomada, num gesto de resgate da identidade negra em um dos últimos estados a abolir a escravidão.
Destaca-se na programação, a Cena Encontro – Roda Ancestral no dia 20 de novembro, um debate sobre aquilombamento cultural e as narrativas negras como ferramentas de transformação cultural e social. A roda contará com a presença de especialistas como Magna Oliveira, mestre em Educação e coordenadora do projeto “Iranti – Ser África” da UFMG; Soraia Geralda Santos, pesquisadora de saberes tradicionais de matriz africana; Mestre Prego, capitão do Congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia; e Daniele Rodrigues, arte educadora e ex-presidente do Movimento Negro São João del Rei, Kymane Luzia, graduanda em Teatro na UFSJ, arte-educadora e pesquisadora das culturas afrodiásporicas e Teatros Negros, Bruna dos Santos, Geógrafa, Chefe do IPHAN Tiradentes, pesquisa cultura afro-brasileira, desigualdade e resistência urbana, Sérvulo Matias, secretário de Cultura de Tiradentes.
A programação inclui ainda a exposição “Amazônia Negra”, da fotógrafa Marcela Bonfim, e apresentação da Associação de Capoeira Artes das Gerais com capoeira, – Maculelê -Reggae Olodun das Gerais. A apresentação será seguida de uma roda de samba com o grupo Tendendê, de Belo Horizonte, contando com a participação das cantoras Isis Ferreira e Marilane Santos, numa homenagem ao passado e a resistência cultural que marcam o local, lembrado por sua importância como ponto de encontro festivo dos negros da cidade de Tiradentes.
No dia 21 de novembro, o espetáculo Solos da Rua, da Cia Fusion, traz apresentações de danças urbanas como Breaking, Krump e Hip Hop Dance, com histórias pessoais que se misturam às dos personagens da obra, em apresentações na quadra poliesportiva da cidade. No mesmo dia, a oficina de House Dance com Leandro Belilo e uma roda de conversa sobre Quilombos e resistência cultural Afrodiaspórica na porção sul de Minas Gerais composta por: João Flor de Maio – “A nova legislação de Tombamento de Quilombos”, Roseli Dos Santos – “Desafios e Candongas – as lutas pelos bens patrimoniais no quilombo Candendê”, Rogério Lazur – “Letramento racial em Tiradentes e região das vertentes” e Sávio Souza – “Fundamentos para desconstruir o pensar e agir racista”.
A programação segue com a Pequena Mostra de Filme Afrodiaspórico no dia 22, no Centro Cultural Yves Alves, seguida de conversa. Passará o “Documentário Favela: Das Leben in Armut (1971)”, documentário alemão que narra alguns dias na rotina da escritora Carolina Maria de Jesus, “Ratinho”, um curta documentário sobre a vida deste personagem pradense e Princesa Macula e o Canto Triste Um filme para toda família sobre a história de uma menina-princesa herdeira de coroa na realeza negra congadeira. Uma obra de cinema comunitário da Efigênia Audiovisual estrelando o Congado da Maria!
No dia 24, acontece o concerto de cravo e orquestra “Música Afrodiaspórica” com a Banda Ramalho, de Tiradentes, MG. Parte de um grupo centenário de músicos, a Banda Ramalho e a Orquestra Ramalho preservam o repertório sacro e mineiro na região. Fundada como instituição familiar no século XIX, a Orquestra Ramalho tornou-se, no final do século XX, a Sociedade Orquestra e Banda Ramalho (SOBR), com estatuto próprio.
O mês encerra com a peça Okan, do grupo Teatro da Pedra, apresentada para escolas locais e a APAE. Okan aborda a cultura e as tradições dos ancestrais africanos de uma família preta do interior de Minas Gerais. O espetáculo é uma viagem sensorial e visual pela memória afro-brasileira, com dinâmicas corporais que evocam as raízes e particularidades culturais da comunidade.
A “Semana da Consciência Negra de Tiradentes” em parceria com o IPHAN – Tiradentes representa uma oportunidade única para ampliar a visibilidade e o diálogo sobre a importância da cultura afro-brasileira. Em uma cidade historicamente embranquecida, essas atividades promovem o entendimento sobre o legado cultural afro-brasileiro, resgatando práticas vivas que contribuem para uma sociedade mais igualitária e inclusiva. Com ações que reafirmam o compromisso com a democratização da cultura e a inclusão, a Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena segue fortalecendo o aquilombamento cultural e o espaço de representatividade.
Fotos – Divulgação
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