Professor aponta os impactos da tendência nas empresas.
Em um mundo cada vez mais competitivo e conectado, onde a autopromoção e a necessidade de reconhecimento externo parecem ser valores cada vez mais celebrados, quiet ambition é uma nova tendência que prega a busca por objetivos ambiciosos de forma discreta e persistente, valorizando a jornada individual e a realização pessoal.
A expressão foi utilizada pela primeira vez em uma reportagem da revista norte-americana Fortune, em abril de 2023, que trazia textos sobre ambição profissional e relatos pessoais de trabalhadores.
No Brasil, a quiet ambition também está ganhando força, especialmente entre os jovens. Segundo o levantamento Carreira dos Sonhos 2023 da consultoria Cia de Talentos, 56% dos jovens estudantes ou recém-formados brasileiros acreditam que a qualidade de vida é hoje a questão mais importante na carreira.
O coordenador do Curso de Administração do Centro Universitário Una, Felipe Gouvêa Pena, explica que o quiet ambition está ligado a uma perspectiva de ressignificação do trabalho. Felipe é professor e consultor organizacional na área de Gestão de Pessoas. A Una em que atua integra o Ecossistema Ânima, em Belo Horizonte (MG).
“Estamos falando de uma geração que está menos disposta a assumir todos os desafios, as implicações, as exigências de uma vida profissional que lhes tire qualquer possibilidade de ter uma vida para além da organização. De trabalhadores mais preocupados com saúde mental, com convivência com família e amigos e com experiências e propósitos que lhes deem mais sentido”.
Para o professor, a questão que vai ganhar força nos próximos anos, é a ideia de fugir de um aumento de estresse, de fugir de uma carga horária elevada, de não encontrar na empresa sentido, nas trocas e nos processos de conhecimento.
“Isso tudo vai deixar as pessoas menos dispostas a assumir cargos de liderança. E também tem a ver com a imagem que a empresa passa, se estou numa organização onde a maior parte das lideranças dizem constantemente que estão infelizes, que estão insatisfeitas. Têm essas mensagens implícitas que a organização passa todos os dias e que vão ganhando força nesse processo”, alerta.
De acordo com Felipe, “estamos falando de repensar planos de carreira, até a noção de carreira. O mundo corporativo está definitivamente saindo de uma lógica que permaneceu por muito tempo de associar trabalho a ganho financeiro e esse ganho financeiro está restrito a trabalhar 7×7, 24×24”.

Como lidar?
O professor aponta três reflexões sobre como os setores de Recursos Humanos das empresas podem lidar com essa tendência:
1) Explore melhor a ideia da experiência do profissional. Para além de uma lógica utilitarista de salário e benefícios clássicos.
2) Crie um ambiente interessante, com espaço e condições para que as pessoas se sintam confortáveis e interessadas em estarem ali.
3) Isso tem a ver com as relações, com estruturas, com planos de carreira que não sejam simplesmente para ir do ponto A para o ponto B, mas que apresentem ganhos para além da remuneração.
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