A indústria brasileira deu sinais de retomada em março e registrou crescimento acima do previsto por analistas, mesmo diante de um cenário ainda marcado por incertezas externas e aperto das condições financeiras. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial teve alta de 1,2% em relação a fevereiro — o melhor desempenho mensal desde junho de 2024, quando o índice chegou a 4,3%
O resultado superou as expectativas do mercado. Pesquisa da agência Reuters previa um avanço mais modesto de 0,3%. A leitura também marca uma reversão significativa após a estagnação de fevereiro e o crescimento tímido de apenas 0,1% em janeiro. Para o especialista em desenvolvimento econômico e tecnológico Hugo Ferreira, diretor da MPA Automação e Robótica, o resultado positivo reflete uma reação importante da indústria, mas ainda não representa uma virada de chave definitiva.

“O crescimento acima do esperado é um bom sinal, especialmente diante do contexto macroeconômico desafiador. Mas o setor ainda enfrenta obstáculos estruturais, como alta carga tributária, gargalos logísticos e necessidade de maior investimento em inovação e automação. O Brasil precisa aproveitar essa movimentação para fortalecer a base tecnológica da indústria e torná-la mais resiliente e competitiva no longo prazo”, analisa Hugo Ferreira.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção aumentou 3,1% — o melhor resultado desde outubro de 2024 (6,0%) e também acima da expectativa de 1,4%. Com isso, o setor encerrou o primeiro trimestre de 2025 com crescimento de 0,1% sobre os três meses anteriores.
Os dados da pesquisa industrial mostraram que em março, três das quatro grandes categorias econômicas e 16 dos 25 ramos industriais pesquisados tiveram expansão na produção. As principais influências positivas vieram de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,4%), indústrias extrativas (2,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (13,7%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (4,0%). Entre as categorias econômicas, bens de consumo duráveis (3,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (2,4%) apresentaram os melhores desempenhos no mês. Ainda assim, a produção industrial brasileira continua 14,4% abaixo do ponto mais alto da série histórica, registrado em maio de 2011.