
Reafirmando o compromisso com a valorização da cultura afro-brasileira e com o protagonismo dos corpos negros em cena, a Mostra Benjamin de Oliveira chega à 8ª edição reunindo espetáculos e ações formativas em Ouro Preto, na região Central de Minas, e em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A programação começa na cidade histórica de Ouro Preto, com peças apresentadas entre os dias 17, 23 e 27 de julho, na tradicional Casa da Ópera. A entrada para todos os espetáculos é gratuita e por ordem de chegada.
Criada em 2013 pelo mestre Maurício Tizumba, a Mostra Benjamin de Oliveira homenageia o palhaço, ator, cantor, instrumentista e compositor Benjamin de Oliveira (1870-1954), o primeiro palhaço negro do Brasil, e um dos principais responsáveis por difundir com maestria as artes circenses e cênicas no país. O projeto é uma realização da Cia Burlantins, com produção da Napele Produções Artísticas, e patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB-MG).
Para a curadora da Mostra, Júlia Tizumba, atriz, cantora, escritora e percussionista mineira, filha de Maurício Tizumba, a edição deste ano é especial por marcar a primeira vez que o projeto acontece fora de Belo Horizonte. Desta vez, ao chegar em Ouro Preto e Nova Lima, a Mostra ressalta a força da cultura negra especialmente a partir das figuras heróicas e inspirada nas cosmologias das religiões e saberes de matrizes africanas.
“É muito importante poder expandir a mostra para outros municípios. É muito especial poder falar dos nossos heróis, falar de Galanga Chico Rei em Ouro Preto, com uma companhia da própria cidade. É muito legal poder valorizar os artistas de cada localidade. E trazer também a Cia. Bando, que é uma parceira antiga da Cia Burlantins, apresentando um novo espetáculo. Estamos muito felizes, temos certeza que essa experiência será muito potente“, ressalta a curadora Júlia Tizumba.
A estreia acontece com a peça “Chico Rei: Galanga do Congo”, que utiliza linguagem de teatro de sombras e de bonecos para contar a história de Chico Rei, personagem lendário da tradição oral de Minas Gerais, apontado como rei do Congo que, após ser escravizado para trabalhar nas minas da antiga Vila Rica durante o ciclo do ouro, promoveu uma revolução ao alforriar diversos irmãos e lutar pelo fim da escravidão.
A montagem é uma criação conjunta das Cias Rabisco Brincante e Assunto Suspenso, ambos os grupos fundados por Erik Martincues e Ana Cláudia Miguel, com sede em Ouro Preto. Enquanto a Rabisco Brincante atua com foco no público infantojuvenil, unindo teatro, contação de histórias, brincadeiras e oficinas criativas, a Assunto Suspenso desenvolve uma pesquisa autoral em teatro e dramaturgia narrativa.
As outras duas produções ressaltam as cosmovisões e saberes distintos da cultura afro-brasileira. A peça “Aláfia: A Criação da Humanidade” conta a história do mundo a partir da perspectiva iorubá, na qual Olorum encarrega seu filho Oxalá de criar a Terra, mas Odudua, seu irmão, acaba tomando a frente e liderando a criação de todas as coisas, restando a Oxalá outro presente: a criação da humanidade. A montagem da Cia Ajayó Teatro em Pé, fundada no distrito Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, mistura os saberes afro-brasileiros e a poesia cotidiana das ruas. A direção é de Dhu Rocha, com dramaturgia de Gio de Oliveira e atuação de Dani dos Anjos, Dhu Rocha, Gio de Oliveira e Josi Oliveira.
Fechando a programação deste ano, a Cia Bando, de Belo Horizonte, formada pelos atores e contadores de histórias Andréa Rodrigues, Anderson Ferreira, Fabiana Brasil e Rainy Campos, apresenta o espetáculo “Árvore do Pai Boi”, contemplado no edital Novas Dramaturgias, da Prefeitura de Belo Horizonte.
Com linguagem dedicada às infâncias, a peça recorre à oralidade, à mitologia e às discussões sobre sustentabilidade e ecologia para narrar a história de três brincantes que decidem realizar a festa mais importante do lugarejo onde moram: a celebração da árvore do Pai Boi, o guardião da comunidade. Durante os preparativos, porém, eles precisam descobrir o que fez Pai Boi desaparecer da cidade sem explicações.