A Casa Marina traduz a força da arquitetura quando ela se torna ferramenta de transformação. O projeto, espaço de capacitação para mulheres em situação de vulnerabilidade criado pelo Instituto Marina e Flávio Guimarães (IMFG), mantido pelo Grupo Bmg, é assinado pela arquiteta Flávia Roscoe. A Casa faz parte de uma residência padrão da Cidade dos Meninos, em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Ao reinventar o imóvel para ser um local de acolhimento e autonomia, a proposta estética e funcional de Flávia Roscoe surge da cuidadosa leitura da construção existente, respeitando sua estrutura e materiais e revelando novas possibilidades a partir de intervenções precisas e acessíveis. A iluminação natural, um dos principais recursos, é amplificada para criar ambientes mais saudáveis e visualmente leves. As áreas internas se conectam com o jardim e a horta, garantindo uma integração com a natureza e reforçando a ideia de bem-estar por meio do design biofílico.
A escolha da paleta cromática privilegia tons suaves que induzem calma e pertencimento, complementados por mobiliário ergonômico para promover conforto em todas as atividades. Esses elementos convivem com um mural artístico de azulejos, peça de destaque que funciona como expressão de identidade e marca da vocação criativa do espaço e exaltação às mulheres.
Mesmo com restrições de intervenções, Flávia Roscoe pensou em cada detalhe para renovar a experiência espacial. A arquiteta manteve o piso original de ardósia em grande parte da casa, trabalhando sua presença como elemento de história. Nas áreas em que houve substituição, a cerâmica foi a escolha devido à praticidade e à fácil manutenção. A redistribuição pontual das paredes otimizou a circulação e valorizou o uso de cada um dos 11 ambientes em uma área construída de 180 metros quadrados, em um terreno de 530 metros quadrados. Vale registrar que a construção das casas na Cidade dos Meninos ocorreu entre 1993 e 1998.

A iluminação artificial foi revisada para reforçar a sensação de acolhimento e a funcionalidade das salas de aulas e oficinas. Contrastes de texturas, novos acabamentos internos e o uso estratégico das cores ampliaram a percepção de amplitude. A atmosfera final revela um equilíbrio entre estética, praticidade e propósito social, direcionado para o protagonismo das alunas. “O que fizemos foi uma pequena redistribuição de paredes, definição de mobiliário, pinturas externas e internas. Além de uma adequação de iluminação”.
O projeto se consagra como exemplo de como a arquitetura pode ser humanizada sem abrir mão do rigor técnico e do design inteligente. Nas palavras de Flávia Roscoe, “espaços bem pensados transformam comportamentos e estados de espírito, com o humor. A mensagem é de vida e de alegria. A Casa Marina demonstra que, quando o design trabalha para o cuidado, cada escolha estética se converte em ferramenta de mudança. O legado do projeto está em oferecer oportunidades que permitam às mulheres recomeçar, conquistar liberdade e desenhar novas histórias”.
O impacto esperado se estende à comunidade de Ribeirão das Neves e ao entorno. “Acredito no desenvolvimento e na evolução das pessoas por meio do aprendizado e do trabalho. Quando há oportunidade, as pessoas saem da zona de conforto, aprendem algo novo e as portas são abertas. O legado da Casa Marina é dizer para as mulheres que elas podem começar uma nova história, achar um caminho e, com treinamento e qualificação, elas têm a chance de mudar suas vidas. Este projeto do Instituto é ainda mais amplo ao proporcionar algo precioso, que é dar liberdade para essas mulheres traçarem o próprio rumo.”
RAIO-X DA CASA MARINA
– Cursos profissionalizantes: Corte e Costura, Cabeleireira, Manicure e Pedicure e Cuidadora de Idosos
– Preparação e empregabilidade: oficinas sobre Educação Financeira e Empreendedorismo
– Estrutura: cursos gratuitos com duração de três meses, turmas manhã e tarde, com 16 vagas em cada
– Parceria: Sistema Divina Providência
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