Um estudo realizado no Centro de Dor Orofacial da Rede Mater Dei de Saúde, em Belo Horizonte, foi publicado na renomada revista científica Nature.1 O artigo discorre sobre um procedimento aplicado em 22 pacientes da rede, para reduzir a dor na articulação temporomandibular (ATM), por meio de uma técnica inovadora e menos invasiva. Os resultados foram positivos, com registro de melhoras significativas na dor, abertura da boca e até mesmo na recuperação do desgaste ósseo em pacientes com problemas avançados na ATM.
Cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com disfunções na ATM, de acordo com o Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial.2 Conhecidos como DTM (disfunções temporomandibulares), esses problemas que afetam a articulação e os músculos responsáveis pela mastigação, como desgastes e doenças articulares degenerativas, podem causar dor, dificuldade para abrir a boca e até mesmo estalos ou rangidos na articulação.
Nesses casos, é comum que o paciente seja submetido a um procedimento chamado artrocentese, que consiste na lavagem do ambiente interno da articulação, a fim de aliviar inflamações, dores e inchaço. O método desenvolvido pelos pesquisadores possibilita o acesso – antes inacessível em ambiente ambulatorial – aos compartimentos superior e inferior da ATM, mediante a utilização de marcos anatômicos precisos, referenciados pela equipe.
A técnica inova também ao utilizar instrumentos especiais, agulha e cânula de forma concêntrica, que possibilita que o cirurgião use apenas um ponto de entrada para cada compartimento da articulação, tornando o processo mais simples, seguro e menos invasivo. Além disso, a lavagem da articulação é somada a outras duas técnicas, a depender do nível de desgaste da ATM: a viscossuplementação (VS), que atua como um “lubrificante e nutriente” para a articulação, feita com ácido hialurônico, e a injeção de ortobiológicos (OB), “remédios biológicos” que ajudam na reparação dos tecidos.
O uso de ultrassonografia aprimorou a segurança e eficácia do procedimento, checando o posicionamento da agulha e cânula e minimizando riscos de lesões. 22 pacientes (que tinham problemas nas duas ATMs, totalizando 44 articulações) foram acompanhados por cerca de um ano, e o resultado foi positivo: todos os pacientes tiveram uma melhora significativa na dor, chegando a zero após o tratamento, e também houve melhora na amplitude de abertura bucal e na reparação óssea, com redução nos estágios de desgaste da ATM. Porém, os autores do estudo ressaltam a importância de estudos futuros com amostras maiores e grupos de controle para confirmar a aplicabilidade e a eficácia a longo prazo.
“O grande diferencial dessa técnica é o reparo estrutural dos componentes anatômicos comprometidos pela doença degenerativa, além de uma menor morbidade e a rápida recuperação do paciente, melhorando de forma relevante sua qualidade de vida”, afirma o Dr. Eduardo Januzzi, cirurgião-dentista, responsável pelo centro de Dor Orofacial e Disfunção Temporomandibular do Hospital Mater Dei e autor principal do estudo.



