Os hospitais filantrópicos 100% SUS de Belo Horizonte esclarecem que, até a presente data (29/12), nenhuma das seis instituições recebeu os repasses financeiros ainda pendentes junto ao Município de Belo Horizonte, situação que compromete de forma grave a manutenção regular dos serviços prestados à população.
É preocupante o fato de que numa situação tão calamitosa, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) esteja demonstrando tão pouca importância à situação na medida em que não traz soluções efetivas para os repasses pendentes. É nítido que a agenda da prefeitura está desalinhada com a maior demanda da cidade neste momento.
No documento encaminhado pela Secretaria de Saúde faz-se menção a um valor elevado que já foi pago este ano aos hospitais, valor este que corresponde a parte dos serviços que foram devidamente prestados. Mas não esclarece quando será regularizado o repasse restante em atraso, o que aparenta ser uma tentativa de confundir a população com informações incompletas. A prefeitura até agora não respondeu, portanto, qual será a solução para o problema enfrentado pelas instituições e nem justifica a postergação dos repasses. Para os hospitais, a continuidade dos serviços depende de regularidade e previsibilidade financeira, receber recursos “em algum momento” não garante o funcionamento diário da assistência.
É importante ressaltar que os recursos federais destinados ao custeio de internações, cirurgias, UTIs e outros procedimentos de média e alta complexidade possuem destinação específica e devem ser repassados de forma regular aos hospitais. Ao que parece é que o município vem utilizando repasses federais mais recentes para o pagamento de dívidas antigas, o que empurra os pagamentos atuais para frente e mantém as instituições permanentemente em atraso.
Na prática, isso gera uma asfixia financeira real. Hospitais que atendem a maior parte dos casos mais graves da capital são obrigados a recorrer a empréstimos bancários para honrar salários, contratos, fornecedores e garantir a reposição de insumos, mesmo mantendo o atendimento à população sem interrupção.
Os hospitais filantrópicos 100% SUS da capital mineira — Santa Casa BH, Hospital São Francisco, Hospital Mário Penna, Hospital Sofia Feldman, Hospital da Baleia e Hospital Universitário Ciências Médicas — são responsáveis por mais de 70% da assistência hospitalar de alta complexidade da cidade, incluindo procedimentos de alto custo e longa permanência. A continuidade desse atendimento não pode depender de esforços extraordinários permanentes nem da capacidade das instituições de absorver atrasos sucessivos nos repasses.
O luto institucional adotado pelos hospitais não é um gesto simbólico. Trata-se de um alerta público e responsável de que a rede hospitalar filantrópica opera no limite de sua capacidade financeira. A manutenção desse cenário representa risco assistencial real e imediato para a população que depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde.
As instituições reiteram a disposição para o diálogo institucional com a PBH, mas reforçam que a regularização imediata dos repasses, com previsibilidade e regularidade, é essencial para garantir a continuidade da assistência hospitalar na capital. O Ministério Público já foi acionado para ciência e acompanhamento do caso.


